Emergências e ‘malacabados’

Jairo Marques

Como sou mais destemido que filhote de tartaruga quando sai do ovo, quando estive em Londres, no ano passado, quis dar um ‘devorteio’ naquela danada de roda gigante, a maior do mundo inteiro.

Fiquei na fila para comprar o tíquete, mas, em instantes, um inglês veio até mim e disse que eu só poderia ‘brincar’ na roda depois de duas horas. Só quando cheguei ao guichê, foi que me explicaram a razão da demora.

Por razões de segurança, só podem circular no barato sete ‘malacabados’ em cada giro. Como eram Paraolimpíadas, o que mais havia em Londres naqueles dias eram pessoas sem braço, sem perna, prejudicadas das pernas…. logo, eu só teria espaço dali a duas horas.

“Uai, tio, mas qualé a razão de só sete ‘dificientes’ por vez”

É que o esquema de segurança montado no local consegue garantir, em caso de pane, o resgate seguro de sete pessoas com restrições de movimentos, mais que isso, é arriscado.

Com a tragédia em Santa Maria (RS), muita gente me perguntou sobre regras de seguranças específicas para o povão com deficiência. A resposta é: não existem!

O que rola é que nas normas de acessibilidade existem recomendações que visam garantir condições específicas para que haja condições de fuga mais bacanas caso a casa caia e tenha dentro dela gente com dificuldade de locomoção.

Mas qual é a realidade do nosso país? Que muitas casas de show, cinemas, bares e demais pontos de concentração de pessoas nem se dão ao trabalho de garantir o básico, acessibilidade.

Ontem, em um shopping aqui de São Paulo, notei algo ‘novo’ e mega ultra importante para ajudar deficientes em um momento de emergência: pontos de refúgio específicos.

“Como assim cê fala, Zairo?”

Isso na Europa e nos EUA é bem comum: são espécies de salas blindadas com portas corta-fogo e paredes reforçadas capazes de resistir mais ao fogo, por exemplo. Aí, botam os cadeirantes, os cegões e demais pessoas que não consigam sair correndo dentro do local até que o socorro chegue.

É bem comum também que próximo aos equipamentos de segurança, como extintores e mangueiras, tenham cadeiras de evacuação capazes de descer o ‘estropiado’ rapidão e tranquilo por escadarias.

O Brasil vai passar e está passando por uma revolução em torno das medidas de segurança em locais de concentração de segurança. É hora de bater bumbo para que o público com deficiência não seja esquecido.

Lugares reservados precisam estar próximos às saídas e em locais em que, caso seja necessário, o deslocamento seja rápido. É preciso haver sinais sonoros para os cegões e luzes piscando, por exemplo, para orientar os surdos. Claro que isso não pode comprometer o direito das pessoas de terem boa visão do espetáculo, do filme, do show…

Enquanto as coisas não acontecem, é importante que o próprio ‘malacabado’ seja precavido. Em baladas ‘fortes’, é preciso ter controle total dos riscos. No mínimo movimento de muvuca como brigas ou provocações, é preciso sair de perto imediatamente.

Ter plena noção de como sair rápido de um local, mesmo que seja em um ambiente mega “sussu”, e ter por perto alguém que possa auxiliar se o bicho pegar ajuda um bocado também.

É preciso ter em mente que em um cenário de emergência as pessoas ficam desesperadas e perdem a noção de civilidade. Todo mundo sai louco em busca da própria sobrevivência e os mais ‘frágeis’ vão estar muito vulneráveis. Então, bacana é se precaver e cobrar que condições que nos igualem, também em emergências, sejam tomadas.

Comentários

  1. Muito importante essa informação, sempre fico pensando em como fazer com a Júlia (e outros malacabados) em casos de emergência.
    Beijo

  2. Muito bem pensado grande Jairo… Já não existe quase em determinados locais a facilidade de se ver um bom espetaculo, em alguns camarotes subir só com ajuda do corpo de bombeiros para camarote, ja passei por isso, hoje em dia não tenho coragem, ja pensou um local que dependo de outros para sair numa emergencia como farei??? Hj em dia teve escadas já não me habilito se for casa de shows.

  3. Jairo, quanto tempo! Tudo certo? Post muito interessante! Vc sabe que, desde a tragédia do Sul, eu parei pra pensar? Lembrei das baladas que já fui e me peguei imaginando se eu estivesse na boate Kiss. Como não consigo sair correndo e levando em conta as condições que o local apresentava, já dava pra imaginar o meu fim, né?
    Que esta tragédia sirva de lição para que as condições de seguraça de locais de entretenimento sejam revistas e que sejam levados em conta todos os tipos de público, inclusive nós, malcabados, porque eu também sou filho de Deus e gosto de sair de vez em quando! rs
    Abração!

    1. Rodrigão, vc estaria perto da saída e estaria vivo, sim, rapa! Mas o alerta fica para o resto de nossas vidas, não é? Abrasss

  4. Essa sala anti fogo tem tb uma vedação antifumaça toxica? A pergunta é que a maior parte dos mortos e hospitalizados até agora no acidente de Sta. Maria foi causado por fumaça toxica, afetando de modo irreversível, os pumões dos mortos. Tb. houve casos em que os sobreviventes tiveram q ir ao hospital por causa de lesões no pulmão. Bjs.

  5. Uncle Zairo, please, me conta como é o embarque dos estropiados no London Eye, considerando que aquela nhaca num para na ‘estação’. Eu até vi um grupo de cegos que, devidamente acompanhados, entraram de boa, mas fico imaginando um cadeirante, principalmente se motorizado. Ou será que a roda para (tô aqui me coçando pra botar o acento, maldita reforma ortográfica) quando necessário? Achei muito interessantes essas áreas de escape, que você chamou de pontos de refúgio e acho que podem fazer a diferença num sinistro como aquela tristeza que houve em Santa Maria. Mas também rolou a dúvida: esses ambientes são vedados e possuem ventilação por contato externo (janelas basculantes, por exemplo)? É que a maior causa mortis no RS foi a fumaça tóxica e não exatamente o fogo. Beijo na patroa.

    1. Negão, a roda para, sim! Eles fazem limpeza a cada saída de grupo. E eles colocam uma rampinha que fica plano para o cadeirante entrar em sair. Sobre os obrigos, eles não possuem janela, não. São salas capazes de resistir ao fogo por mais tempo, até que o socorro chegue. Se elas resistem? Aí num sei responder ahahhha… abrasss

      1. Era só uma curiosidade. A velocidade da roda gigante é mínima, tanto que o passeio se limita a uma única volta e dura cerca de 20 minutos, mas quando fui com a família a geringonça não parou pra ninguém, nem na entrada nem na saída. A vista é deslumbrante, né? Levou binóculo?

  6. Agora to até me sentindo culpado,sabe? Assim como a acessibilidade ainda é “novidade” pra muitos “normais”,eu nunca tinha parado pra pensar sobre como fazer numa situação de emergencia,mesmo eu sendo um esgualepado.Tomo lá minhas precauções ( nao vou em muvuca ao extremo tipo uma micareta,um show de metaleiros),procuro ir a locais com menos gente ( um barzinho,por ex.),locais menos frequentados, mas q nao sejam o fim da várzea,tomo cuidado pra que nao me empurrem(tenho um rim transplantado e uma cotovelada aqui um empurrao ali ja eras)..e agora vou ficar mais atento aos assentos,mesas,cadeiras perto de saídas..ou de banheiro..vai que a emergencia seja de outra natureza! eheh Abraço!

  7. Jairo, se pegasse fogo num shopping, eu não iria para essas salas blindadas. Se esquecem da gente num avião, imagine nessa sala. Você ficou sabendo da cadeirante esquecida no avoai, que só foi resgatada quando acendeu um cigarro? Estou pensando em sempre ter cigarro na bolsa para esse tipo de situação!
    Sobre esquema de segurança para mal acabados, realmente acredito serem inexistentes aqui. Se mal cumprem a legislação de acessibilidade porque iriam se preocupar em salvar um povo que eles pensam que nunca saem de casa?
    Por isso que eu critico e abomino as salas do CINEMARK, com aqueles degraus maravilhosos estar nesse cinema é pedir para ser pisoteado em caso de pânico.
    Beijos

    1. Betinha, eu não li esse caso do cigarro. Vc se lembra onde saiu??? Mas, olha, pode ser impressão minha, mas tenho percebido melhoras no atendimento dos aeroportos. Da última vez que desci em remota, o ambulifit chegou super rápido… enfim, mas sigamos fazendo pressão, né? Ah, finalmente segui uma dica sua e fui na sala do Vila Lobos… excelente!!!!!! Tb acho aqueles degraus crimonosos… vamos ver se, agora, eles dão um jeito naquilo.. bjossss

  8. Achei interessante, mas será que na hora do pânico, não se corre o risco de nos esquecerem trancados, nessa salinha??? rsrsrsr…sei,lá …espero que não!!! É uma paranóia básica!!! Bjs

    1. Marcinha, os resgatistas tem o compromisso social de nos salvar, então, acho que não rola nos esquecer ahhahahhaha.. bjoss

  9. Tio “Zairo”

    Essa materia vai ajudar bastante ao pessoal da brigada anti-incendio aqui no Tribunal.
    Vou repassar aos responsáveis.
    Abraços!

  10. Santa Maria, no rio grande do sul. (ou sera q teve mais uma tragedia em SC e eu não tô sabendo?)
    corrige lá, Jairo…

    éh uma questão que devemos cobrar. Além de ser direito de igualdade, o mundo precisa ter sempre em mente que um trabalho bem feito, leva o mesmo tempo do que um trabalho cheio de armengue.

  11. Ola,

    Isto pode até funcionar mas ainda assim é de ação bem limitada, pois como mesmo explicastes em situação de grande emergência não há civilidade. E num refugio onde caiba uma cadeira de rodas cabem 2 em pé no minimo. Logo já vai estar ocupado e duvido que a pessoa lá de dentro saia. Na absoluta emergência nos preocupamos conosco e com nossa família é instinto de sobrevivência.

  12. Realmente isso precisa ser feito,as pessoas com deficiencia também tem que ter rápido acesso à saídas de emergência,afinal estamos aqui fazendo parte da população.

  13. Oi Jairo,

    não conseguir postar a mensagem no Post correto, porque não sei por qual razão a caixa de comentários não está abrindo. Bom, não queria deixar passar um comentário sobre o Post “A felicidade torta”.

    Poucas vezes vi um relato tao honesto e sereno como aquele da Carlena Weber. Um modo transparente de encarar a vida como ela é, ou como ela se tornou.

    É de uma lucidez e de uma coragem em encarar as coisas que chega a assustar. E emociona…

    Não há um apego oportunista à religiosidade nem cai na tentação óbvia da pieguice.

    Apenas um relato sobre como contornar as dificuldades de viver. Cada um tem as suas deficiências, físicas ou não.

    Do mais, a moça é linda e a postura em relação à vida é, no mínimo, encantadora. E contagia…

    Bom, é isso. Desculpe colocar o comentário no lugar errado, mas foi onde encontrei para escrever. Um grande abraço.

  14. Tem mesmo que agitar o assunto de segurança para os malacabados em geral…e também para o pessoal que não tem deficiências. Depois de um acidente um lugar com muita gente se não tiver evacuação, socorro imediato muitos sobreviventes poderão passar a ter alguma deficiência…

  15. Jairão…
    Depois desse acontecimento em Santa Maria, acabei pensando em tudo que eu andava fazendo… rs E fazendo tudoooo errado!!! Eu frequentadora assídua de baladas ( diga -se de passagem inferninhos , já que são melhores que uma caixa de ovo) rs vi que estava correndo muito risco , já que entrei em lugares que a pista era no andar de baixo com uma escada gigante para vencer, entrei no meio da pixxxxta para dançar loucamente nas luzes da balada! E nem ao menos pensei um dia que se ocorresse algo eu ia ser a primeira a dizer adeus a essa vida!! Enfim, a gente só aprende na dor né. Bora fica mais atento em todos os lugares que a gente sai e as vezes ficar no cantinho ajuda!Quanto a esse cantinho anti fogo que vc mostrou ai, fiquei com um medo danado disso! rsbjs

    1. Fafá, estou te devendo a resposta de um email, eu acho, né? Vc sabe que tardo e só às vezes falho, né? ahahhahahah… Olha, acho que todo deficiente já se colocou em situações de risco… a gente bota a segurança, muitas vezes, láááá atrás nas prioridades… mas, ficadica… temos de nos programar para isso também… bjosss

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