Insensíveis, não
O menino começou catucando a perna do rapagão. Em seguida, puxou os pelos da canela. Não contente, ele resolveu dar um beliscão caprichado. Nada. Como era possível o homem ficar impassível diante de algo tão doído?
E não são apenas crianças que se intrigam diante da ausência de uma sensibilidade óbvia, sobretudo nas pernas, de pessoas que tiveram lesões medulares após acidentes ou em decorrência de enfermidades raras.
Rasteiramente falando, é como se fios que saem dos membros inferiores e se conectam à medula, que por sua vez conversa com o cérebro, fossem cortados. Dependendo da altura em que essas ligações rompidas estiverem, será determinado, grosso modo, o nível de perdas motoras e sensoriais do sujeito.
Mas ninguém se torna insensível, não. Vários amigos meus “lesadinhos” têm o que chamam de sensações profundas. Às vezes, mesmo de maneira muito discreta, conseguem sacar que alguém está tocando em suas pernas ou está de saliência com suas partes.
Alguns detectam um calorzinho diante do fogo ou um geladinho gostoso dentro do congelador. Há também quem relata não ter sensação nenhuma da cintura para baixo e pronto. A lógica do corpo humano é de intrigar até os mais sabidos dos neurologistas.
O que rola muito também é uma maluquice de transferência de pontos de alta sensibilidade no organismo do povo quebrado. Alguns tetraplégicos -aqueles que dão um trabalhão danado e têm movimentos comprometidos do pescoço para baixo- poderiam usar calcinhas ou cuecas na orelha de tanto que o local se torna ponto de prazer… ui!
Tive uma namorada, cadeirante como eu, que só olhar fixamente para o pescoço dela tinha quase o mesmo efeito que dar para a moça meio litro de pinga. A danada ficava mais assanhada que relógio cuco ao meio-dia.
Mas a ausência de sensações nos “lesadinhos” não é algo a comemorar pelo fato de o sujeito jamais ter dor de bicho-de-pé ou de menisco. Há agravantes importantes em ter essa condição no dia a dia.
Uma grande amiga, vítima de um acidente de carro durante um Réveillon já há vários anos, teve de passar outra virada internada justamente por ter demorado dias para notar que o joelho estava se transformando em uma bola de basquete. Circulação ineficiente, risco de trombose, cama e medicação por uma semana.
Por isso, é sempre bom alertar pessoas com deficiência física, com delicadeza e bom senso, de que seus pés estão dobrados, que há um cachorro mordendo suas canelas, que um marimbondo está atacando o calcanhar, que há um inchaço anormal no joelho.
É incrível para os mortais comuns imaginar o fato, mas, realmente pode acontecer de um cadeirante ter uma perebinha há dias sem ter notado. Daí, um bom amigo, um bom observador, pode ajudar.
Importante ficar claro, porém, que nem todo cadeirante tem comprometimento de sensibilidade e que ser um “mal-acabado” dos movimentos não quer dizer ser insensível e não ter nenhum tipo de dor. Pelo contrário, há várias, infelizmente.
Ver o mundo de outras perspectivas sensoriais, além das tradicionais, talvez possa tornar essas pessoas até mais aptas para captar garranchos e belezas da existência humana.
Tio… já me perguntaram tanto isso. Uma vez na faculdade, uma amiga duvidou que eu tinha sensibilidade nas pernas e me deu um beliscão. Fiquei com dó da mãe dela, viu?! A dor foi tanta que o grito saiu com “gostcho”… kkkkkkkkkkk
kkkkkkkk mereceu a fulana, né? kkkkkk bjosss
Oi Jairo! Eu tenho amigos e conhecidos lesados medulares. Eles dizem que sentem dor de uma maneira diferente que a nossa. Uns sentem calafrios, outros sentem de outra maneira, mas quase todos sentem alguma coisa. Eles são lesados medulares faz tempo. Acho que o tempo e a experiência ensinam a eles a localizarem as dores, mais ou menos. bjs.
Acho também que o tempo ajuda a aumentar os mecanismos de sensibilidade… 😉
Oi Jairo! Muito interessante o post, em relação ao mesmo vou contar uma coisa que aconteceu.. Como a minha doença é progressiva a sensibilidade está meio afetada, do joelhos pra baixo ela vai reduzindo. Então, esses dias meus sobrinhos estavam brincando que eram cachorros e eles morderam a minha canela, só que eu não senti. rsrsr Resultado, canela roxa por mais de um mês. Por isso é bom ter cuidado. Sem falar nas batidas que eu nem imagino que aconteceram, quando vejo já está uma hematoma. Pensa numa cadeirante desastrada, sou eu… rsrrs Beijos!
Quanto teeeeempo, Tuigue! Que legal te ler aqui… e toma cuidado com esses sobrinhhos ahahahha.. bjosss
Interessante materia Jairo, muitas pessoas pensam que alguém com lesão muscular não sente nada, se torna totalmente insensivel a tudo. E alguns nem sabem como lidar com pessoas com tais lesão. Parabéns!!!!
Obrigado, Cláudia! Bjoss
Fica o recado para um exercício de sensibilidade, ou de cidadania como gostam alguns. Uma boa matéria.
Valeu, Roberto.. abrass
Texto simples e direto. Obrigada por nos ensinar tanto. bjs bjs
Ahhhh, querida… saudaaaades daquele laguinho em Roma, heim? ahahhaha.. bjossss
Ainda bem que existe a internete..aqui no blog tirei muita dúvida e hoje, mais algumas ehehe. Não sou cadeirante mas aprendi que alguns tem sensibilidade,outros mais,outros menos,alguns não tem nenhuma, que por a mão na perna é como por a mão na perna de outra pessoa, que alguns tem controle do esfíncter,outros não tem, que cadeirante não é cabide pra colocar as coisas,enfim..mas como o blog não é frequentado apenas por cadeirantes nem fala só sobre cadeirantes,espero e acredito que voces tb tenham aprendido algo com os demais esgualepados ehehe abraço!
Tomara, Thiagão! ahahahaahh
Jairo, li uma parte do artigo, aquela do relógio cuco ao meio dia, para alguns amigos aqui no tribunal. Riram muito!
Lembraram do filme Intocáveis.
Ótimo texto.
Abraços…
Essa até eu achei boa, Ronaldo ahahahhaha.. abrasss
É um prazer ler os textos do jornalista Jairo Marques. Principalmente pela sua sempre defesa dos cadeirantes. Um abraço, amigo.
Elogio do meu eterno professor de português é para pendurar na parede! Um abraço fraterno, Pagá!
Fala Tio tava sumido aqui do blog mais to sempre lendo. Esse trem é doido mesmo né eu carquei um prego na coxa uma vez dessa ai na hr que fui ver o trem tava pregado na minha perna rsrs. Fraturei o joelho e nem doeu e olha que é numa das pernas que tenho boa sensibilidade e na outra que ñ sinto nada só sinto dor rsrs. Isso ñ pode ser de Deus kkkkkkkk. Abçs tio.
Gzuis… um prego?!?!? Caraca, brother… deve ter sido um baita susto… Bom te ler aqui… grande abraço
Jairo, mais uma vez: show de bola!
Se vc permitir, gostaria de compartilhar este texto no site da OSCIP e tb na página do Facebook – vai ajudar muita gente a entender um pouco os comprometimentos da pessoa com lesão medular.
Super bjo
Ire C. Masano (da VSB)
Querida, o texto tem direitos autorais do jornal.. nem meu é!!! Não recomendo copiar, sorry! bjos
Tá certo / copiar nem passou pela minha cabeça / há que se respeitar / azar de quem não ler, certo??
bjo
Coloquei uma chamada no Facebook da VSB para que leiam no Blog, ok? bjo
bjoss
Que bom que compreende!!!
Não há o que discutir / o que é certo é certo!
bjsss
Nossa esse post é mais do que necessário para todas as pessoas! Elas ficam assombradas quando digo , que não sinto a parte de cima da perna, mas sinto debaixo dela… Ou que sinto melhor quando estou olhando a pessoa tocar a perna e quando não olho faz diferença.
Coisas que nem o ser humano pode explicar!
Um beijo
Ahhhh, Fabi… recebeu um elogio seu é tão bom!!! 😉
Oi, Jairo! eu não tinha sensibilidade alguma, com o passar dos anos fui notando que vinha sentndo dores nas pernas quando batia, queimava… daí fui percebendo com o tempo com sinais que o corpo dá, quando há algo de errado. No meu caso manifesta com espasmos e com dor em determinada região.
Mas demorei a assimilar que essas coisas eram sensações e não coisas da minha cabeça.
Sou neurótica com isso, fico obersevando o tempo todo se não há algo de errado..rs
já passei deitada dois anos por conta de uma escara, e foi nessa época que descobri que tava sentindo dor.
Keilla, interessaaaaaante a sua informação. Essa dos “sinais” do corpo, eu confesso que não sabia… valeu!!! bjosss
Oi, querido, tudo bem? sumi por uns tempos, muitas mudanças na minha vida…
Adorei o texto, muito esclarecedor.
beijo grande
Volta com tuuuuudo! 😉
Interessante essa transferência de pontos de alta sensibilidade, nunca tinha ouvido falar nisso. Os neurologistas, por mais que estudem, se sentem incapazes para entender o sistema neural e suas consequencias. Eu que não tive nenhuma lesão medular, na época fiquei sem sensibidade nas costas. Quando foram me dar banho de gato lá no hospital viram que tinha um pequeno pedaço de ampola cravado nela. Isso deu o maior bate-boca depois.
Carlão, imagino seu perrengue… aff.. grande abraço