Teleton sem Hebe

Folha

No ano passado, a presença dela no palco foi dúvida até os últimos momentos. Porém, mesmo bastante debilitada devido à fúria do câncer, Hebe deu o ar da graça na maratona televisiva Teleton. E haja graça, haja gracinha, haja sorriso.

Com a força física raleada, a apresentadora teve de ser amparada por um colega de espetáculo para conseguir andar e ficar em pé durante as três horas em que participou da festa das crianças mal-acabadinhas da AACD.

Detalhe é que ela não abriu mão de se equilibrar sobre aqueles saltos altíssimos, parte importante de seu carnaval e de seu poder de chamar a atenção e de botar o povo para discar o danado 0500… 

Daqui a exatamente um mês, quando acontecerá o evento de 2012, o Teleton vai estar órfão da madrinha Hebe, que se esmerava nos apelos, na oferta de selinhos, de agarrinhos e de exageros emocionais para garantir que molequinhos e molequinhas de todo o Brasil conseguissem acesso à reabilitação.

Meu primeiro refúgio para tentar consertar o que a paralisia infantil me estragou foi justamente a AACD. Fui um daqueles pequenos quebradinhos que, quando a gente vê na TV, fica pensando: “Ah, coitadinho! Não precisava mostrar isso dessa maneira”.
Mas é na associação (que, ao contrário do que muitos pensam, não é uma instituição pública) que a menina que não anda descobre que pode flutuar e se divertir na água da piscina ou que o sujeito meio capenga ganha mais equilíbrio e firmeza com o auxílio de um equipamento desenhado sob medida.

Independentemente de gostar do formato do Teleton, sempre defendo que ele é indispensável para que a vida de milhares de pessoas seja melhor.

Nos rincões do país, onde o acesso a tudo é mais complicado, pais assistem ao programa da TV e se inspiram a buscar tratamento para aquilo que, até então, “não tinha jeito” ou era “o que Deus quis”.

E foi esse programa um dos primeiros do país a mostrar, sem remendos de sensacionalismo e sem eufemismos, pessoas usando próteses no lugar de braços e pernas, aparelhos ortopédicos, cadeiras de rodas e felicidade na diferença física.

Apesar de, muitas vezes, fazer o discurso de “peninha”, de comoção pela diversidade limitadora de “quase tudo na vida”, com o qual eu nunca concordei, Hebe catava aqueles cadeirantinhos no colo com um amor, uma vontade de ampará-los muito cativante.
No final, ela armava um fuzuê entre artistas, personalidades e pessoinhas com deficiência que gerava resultados: recursos arrecadados, novos hospitais construídos, mais atendimentos garantidos.

Se Fafá de Belém eternizou o “depeeeende de nós…”, música tema e chiclete do show, Hebe Camargo cravou na história do Teleton tanto a sua expressão de preocupação verdadeira de que a meta não fosse alcançada como, horas depois, a explosão emotiva e contagiante ao ver os recursos serem conquistados.

Vai ser preciso que as outras loiras televisivas doem bem mais que sua beleza e charme para assegurar a continuidade do sucesso de uma causa claramente nobre. Hebe terá de estar firme em suas inspirações e em suas ganas de garantir dias melhores para os outros.

Comentários

  1. É gostoso de ler seu texto, concordo com você, a Hebe vai fazer muita falta. Porém, não gostei do “mal acabadas. Se formos ver bem, todos aqueles que não se enquadram num certo padrão de balezasão mal acabados. Para mim mal acabado é aquele que se considera melhor que os outros que despreza alguém porque tem menos dinheiro.Enfim, é o que penso. Abraços!

  2. To vindo tarde mas descobri muita coisa.. que a AACD não é pública ( sempre achei que fosse), que já era do seu tempo rs enfim..quanto ao pessoal que acha que “nao é legal” ver 1 monte de amputado, paralisado,cadeirado, proteseado mostrando a cara tipo “tira q eu nao quero ver gente doente” eu só digo uma coisa..nao precisa nem assistir..apenas abra o bolso e o coração e doe. Abráucio!

  3. É a primeira vez que entro neste blog, confesso que me sensibilizei com seus argumentos, humanos e verídicos, visto ser escrito por alguém que também padece dos sintomas. Creio que o único sentimento que nos poderá salvar da bancarrota moral seja a solidariedade, nesse quesito HEBE foi uma guerreira que nos fará falta.

  4. Parece que muita gente está lendo o blog do Jairo pela primeira vez na vida. Não entendo porque tanta indignação ao ler o termo “mal acabadinha”. Ser chamada de mal acabada, necessidades especiais, aleijada, etc não é o centro do problema das pessoas com deficiência. Nossos problemas são a falta de respeito com relação a nossos direitos.
    A AACD quando foi criada tinha o seguinte nome ASSOCIAÇÃO DE ASSISTENCIA À CRIANÇA DEFEITUOSA. Encheram tanto por conta do termo defeituosa, que ela passou a se chamar ASSOCIAÇÃO DE ASSISTENCIA À CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA. Como já comentei anteriormente quando tinha o nome antigo era mais eficaz e prestativa do que agora.

  5. Comentário de muito mal gosto e totalmente sem graça esse comentário seu de “festa das crianças mal-acabadinhas da AACD”. Ridículo isso, vc concerteza não deve ter nenhum parente nas mesma condições dessas lindas crianças, pois se tivesse concerteza não postaria esse comentário ridículo.

  6. Passei por uma cirurgia no joelho na AACD e tive a oportunidade de conhecer o belo trabalho que eles fazem. Apesar de ter pago a cirurgia, fiquei curiosa para conhecer o trabalho social deles e desde então contribuo todos os anos. Como qualquer grande instituição há problemas sim, mas o bem que continuam fazendo supera os defeitos de gestão.

  7. Olha. Não sei como a história de alguém justifica chamar as pessoas de “mal-acabadas”! Sério. Não entendi mesmo. E agora o cara escreve como se os leitores conhecessem a história dele??? É um pré-requisito para ler o seu texto? Fala sério, cara. Explica isso, por favor!!!!

  8. Seria interessante que esses leitores que estão criticando o Jairo,por se referir a Pessoa com Deficiência como “mal-acabadas”,pudessem ler um pouco mais o blog,fazendo isso, perceberão que em nenhum momento existe o desrespeito,é a forma bem humorada que ele trata desse mundo,que na qual,eu,ele e boa parte dos seus leitores fazem parte.

  9. CONCORDO COM QUE ELE DISSE, MAS REALMENTE QUANDO DIZ CRIANÇAS MAL- ACABADINHAS, PEGOU MAL, PARECEU DESRESPEITOSO…

  10. Achei seu comentário sobre as crianças mal acabadiças da AACD um tanto quano preconceituoso. Naminhaopiniao tem outras tantas coisas veneradas por nossa imprensa que sao mais mal acabadas… Talvez as aulas de ética que o senhor freqüentou algum dia

  11. Crianças mal-acabadinhas???Faça-me o favor… a maneira como este cidadão se refere às crianças que precisam da AACD chega a dar nojo… Que vc jamais pague sua língua… indignada demais com as bobagens que leio…

    1. Pagar a língua? Por que? Você acha que ter um filho com deficiência é castigo? Cuidado, talvez seu discurso não seja tão politicamente correto para criticar o dos outros.
      O Jairo se refere às crianças como trata a si mesmo: com a liberdade que tem de brincar, de comentar sem preconceito ou falso moralismo.
      Leia outros textos e veja que o humor é a marca dele. Não o humor desrespeitoso, mas o humor do dia-a-dia, de quem sabe rir em vez de ficar chorando ou pedindo piedade.

  12. AACD é importante para todos.E VC Denise seja transparente ao falar do AACD.Vc é medica?Só ouço falar bem da AACD.É um dinheiro que tiro do meu bolso com prazer todos os anos.
    Pedir por favor está é educação.Eu peço por favor até pro padeiro me atender,e estou pagando.

    1. Também peço por favor para o padeiro, mas ele reconhece que a minha compra é importante, não me trata com indiferença.
      Respeito sua opinião, seja você médica ou não. Por acaso só médico tem direito à opinião? E a minha opinião é a mesma de muitos médicos, inclusive a do neuro da minha filha, José Salomão Schwartzman.
      Sou transparente, sim, e tenho direito de manifestar minha opinião, tanto quanto você.

  13. Concordo com a Denise.
    Eu fiz minha reabilitação na AACD quando criança e reconheço que conquistei muita coisa graças ao tratamento que obtive lá.
    Porém, parece que a AACD nao é mais a mesma da época do Dr Renato Bonfim. Recentemente fiquei chocada ao saber que os medicos de lá simplesmente afirmam que a SPP nao existe! Me poupe!

  14. Concordo que a Hebe fará falta.
    Concordo que o Teleton é necessário: mais pela visibilidade que dá aos empresários, estimulando importantes doações, do que pelos telefonemas.
    Mas acho que a AACD poderia usar muito melhor o dinheiro. Vale lembrar: é instituição, não paga imposto.
    Com o Teleton constroi, em parceria com prefeituras, mas os atendimentos são custeados pelo SUS, convênios, particulares e doações de empresas.
    Vendem os equipamentos mais caros do Brasil e nos tratam como se precisássemos pedir por favor para ser atendidos (mesmo pagando).
    Pagam mal e perdem os melhores terapeutas. Não gostam e não fazem mais parcerias com universidades para estimular pesquisas, porque não aceitam críticas.
    Enfim, eu acho que a AACD foi uma criação importante, mas o padrão de qualidade caiu demais. Há 20 anos, quando você foi atendido, era outra AACD.
    Essa cultura do “me agradece, que eu to sendo super legal”, de fato, eu não engulo.
    Mas gostei do texto!
    Beijos

    1. O grande problema é que a HEBE vai fazer uma falta tremenda, pois ela é quem animava a festa. Queira ou não queira ela era MARAVILHOSA…….

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