A coletiva

Jairo Marques

Neste período em que voltei para a reportagem, em que tenho ido muito para a rua atrás de notícia, atrás de novidades sobre a cidade, atrás de boas histórias, tenho me deparado com desafios da profissão.

“Ahh, tio, mas você já é jornalista há mais tempo do que o Cid Moreira. O que é novo procê, heim?” 😉

É que esse momento da minha vida de repórter é um pouco diferente do início da minha carreira, lá no tempo em que a gente usava ceroula. Eu fazia coberturas mais especiais, assuntos menos ligados ao hoje e, normalmente, fora da cidade de São Paulo.

Agora, não. Estou no fervo, tendo de correr para dar conta de assuntos que rolam aqui, na maior cidade do país. Como tenho poucos parafusos no lugar, gosto desta realidade, gosto de me sentir um profissional comum, que tem que batalhar para garantir que o leão fique na jaula… 🙂

Pois diante desse dia a dia, o tio acaba passando mais aperto que pé de pobre em sapato de ir à missa! Semana passada, eu estava escalado para ir a um evento sobre saúde pública, beleza, tranquilinho para um ‘repórti’ que leva consigo quatro rodas e tem lá suas necessidades peculiares para dar conta do recado…

Mas acontece que jornalismo muda demais de um momento para outro. Bate um vento mais forte e os rumos da notícia se alteram e o pobre do escrevinhador precisa repensar suas estratégias.

Nesse dia do evento que eu participaria, aconteceu uma série de fatos envolvendo segurança pública no Estado. E, para a minha sorte profissional (e desespero profissional) o governo do Estado, Geraldo Alckmin, iria estar lá….

E onde está o governador em um dia de muvuca de segurança está também quem??? Quem??? Toooooda a mídia. Dezenas de câmeras e de microfones, gravadores e coleguinhas afoitos para tirar uma declaração do político mais importante do Estado.

Sempre que posso, evito estar em coberturas que avalio ter eu alguma dificuldade para desempenhar o meu ofício, afinal, o jornal precisa da notícia independentemente da minha condição particular de consegui-la. O interesse público vem na frente de minhas possíveis demandas!

Contudo, o palco estava armado e eu teria de dar um jeito de conseguir, da mesma forma que meus coleguinhas, as declarações do governador, mais conhecido como seu “Picolé de XuXu”… 😉 .

Fiz o que sempre faço em momentos em que sei que poderei ter dificuldades pelo fato de ser cadeirante: tento me antecipar ao máximo aos fatos, criar maneiras de minimizar minhas “desvantagens” e viabilizar uma solução.

Grudei na assessoria de imprensa do governo e botei pra elas a minha situação:

“Olha, eu vou precisar que vocês me garantam um espaço durante a zona da coletiva. Se eu não ficar em um bom lugar, não vou conseguir perguntar e muito menos ouvir”.

Como o mundo já começou a mudar (graças a gzuis!), a assessoria entendeu perfeitamente a minha situação e me colocou bem na frente do cercadinho onde ficaria o “gove”. Tá certo que tive de ficar ali bem antes da chegada do ‘homi’, pois poderia perder a vaga.

Atrás de mim, um batalhão de tripés, cinegrafistas… tava engraçado! Quando os coleguinhas repórteres foram chegando, invariavelmente, surgiam aqueles olhares com a fatídica pergunta embutida:

“Quem colocou isso aqui?!”

Uma mocinha de televisão, dessas que se acham, me sugeriu que eu saísse dali e ficasse mais de cantinho, no que eu respondi delicadamente: “Não, não, vou ficar aqui mesmo. Estou ótimo”…

Quando o governador chegou a seu “quadradinho”, notei que ele também deu uma scaneada em mim… mas não falou nada… e deu tudo certo.

Claro que, da minha posição, ficou tranquilo de eu berrar perguntas pro seu “picolé”, que não tergiversou e respondeu a todas..

Tá certo que fiquei com o meu bracinho ligeiramente dolorido de ficar estendendo o gravador para o alto, para a boca do governador, mas tá tudo certo!

O grande lance dessa história, para mim, é que mesmo em uma classe em que, talvez, entender as diferenças deveria ser básico, que é a dos jornalistas, há certa dificuldade em botar isso em prática.

Entendo, porém, que tudo o que foge à normalidade chama mesmo a atenção e pode causar algum estranhamento. O meu aviso, contudo, é que tô na praça… e ainda vou correr muito atrás de picolé… e de “XuXu”!

*Imagens do Google Imagens

Comentários

  1. Jornalistazinha sem noção, onde já se viu Jairo Marques ficar em cantinho!
    Cantinho é para ela que deve estar começando. Vida de jornalista é doida, sei como é, mas vá meu querido, meta suas rodas nos espaços, pq talvez seja difícil para chegar, mas depois na entrevista… Não tem pra ninguém! As suas pautas são sugeridas pela Folha? Adorei! Bjokas!

  2. Jairo, tu imagina quando vou a um show, pequenininha e o povo e até mesmo os seguranças que ficam cuidando do local dos “Malacabadinho” entram na frente e tampam tudo que raiva que dá!!!!
    Mais da ultima vez não deixei queto, e consegui que me transferisse pra outro lugar adequado, antes ficava quetinha e não via nada.

  3. É legal quando um jornalista não se prende a um único tema, tipo, você escrevendo apenas sobre pessoas com deficiência, mas sobre política y otras cositas. Lembro de que quando estudava, me sugeriram uma monografia a respeito dos direitos dos deficientes não serem respeitados na prática e pensei..poxa mas não são só os deficientes que tem seus direitos desrespeitados, por que tenho de me fixar nisso? Outra: imagino eu que como pessoas estudadas, esclarecidas que são, seus colegas de profissão, apesar do estranhamento natural, é que devessem tomar a iniciativa de te deixar mais à frente, perguntar se tu precisa de uma mão, demonstrar coleguismo e que te levam a sério como profissa..ou será que eu tô sendo ingênuo? Abraço boa semana!

    1. Eu combato os rótulos, Thiagão… adoro escrever sobre o mundos dos “malacabados”, mas sou jornalista, não é?! Então, estamos aí na atividade… adorei esse coments.. abrasss

  4. De certa forma eu me identifiquei com o post. Não sou cadeirante mas, tenho ausência de altura, se é que me entende. E sempre que vou a coletivas de imprensa tenho a mesma dificuldade. Fico esmagada meio a tanta gente gigante no tamanho e minúscula quando se fala em respeitar as diferenças… Daí, o jeito é dar um pisão no pé daqui, uma cotovelada dali. Tudo “sem querer querendo”. A labuta não é fácil, mas, ainda não desisti da luta. Beijão Jairo. E boa sorte nas próximas coberturas.

    1. Marithê, e a gente é metido a querer falar de cidadania para os leitores, né? ahahahhaha…. mas, na hora que a chapa esquenta, é cada um por si… é dura a vida de um jornalista.. bjosss

  5. Que coisa boa!! O governador e seus colegas, mesmo estranhando estão te vendo! Tomara que se conscientizem de que pessoas com deficiência trabalham, estudam… podem fazer tudo, desde que tenham oportunidades e condições iguais.
    Do jeito que você é inteligente, o governador deve ter se surpreendido com suas perguntas! ; )
    Beijocas

  6. Vamos ver se o comentário vai, porque o da matéria anterior foi para o limbo.

    Bom é isso mesmo, os mamutes estão a solta mas só que eles não imaginam em cima de quem eles foram folgar.

    Tudo bem que palavras que fogem do lugar comum enaltecem o texto, mas “tergiversou” ? Estou lendo isso pela primeira vez e me obrigou a fazer uma consulta no bom e velho “pais dos burros”. Vivendo e aprendendo !!!

    1. kkkkk, pô, Carlão, não é algo assim tão novo, não, viu?! Sobre o outro comentário, ele está aqui, mas estou tendo um problema técnico para liberar.. logo será resolvido! Abração

  7. Jairo Marques… Ainda bem que vc está na praça!!!!
    Fazendo o povo que ainda não entendeu, entender…
    Mocinhas da TV… Argh prá elas, quando escancaram sua falta de respeito!!!! Néscias…
    Beleza de artigo!
    Abração!

  8. E este é o meu tio batalhador presidente desta combi que não para!!!!!
    RSRSRSRS, fiquei imaginando esta cena tiooooo! Parabéns pelo seu sempre maravilhoso trabalho!!!!!!
    Beijão e continui sempre assim este menino bão demais da conta.
    Ótima semana para você e todos do blog.
    PS sábado almocei lá naquele restaurante dos ralabucho, a mocinha que me atendeu disse que todos os anos tem um encontro dos cadeirantes, rsrsrs. ai eu falei para ela, ô minha senhora, teu também faço parte desta trupe. Fiquei toda orgulhosa deles lembrarem de nós, tomara que sejam lembranças positivas, né? KKK.

    1. kkkkkkkkkkk que legal!!! E a imagem de eu prensado no meio do povo deve ter sido divertida, mesmo… pena que, acho eu, ninguém fez um retrato!! Bjosss

  9. Sim, eu me senti na obrigação de comentar este post. Tio, eu morri de rir com seu texto (novidade!), pois passei por uma situação muito, muito, muito parecida, advinha com quem??? O mesmo “gove”, na inauguração do Lucy Montoro aqui em SJC. Detalhe: colocaram a imprensa no mesmo do povo da cadeira de rodas. (Sim, você leu bem… o cerimonial não teve a capacidade de reservar espaços distintos para as duas “demandas” do evento e ouvi reclamações de ambos os lados, pois eu estava ali representando as duas demandas). Foi uma bagunça que só vendo… Lendo seu post, me senti no seu lugar hahahaha Ab

    1. LD, mas acho, então, que a reclamão de vcs fez efeito, pois aqui as coisas até que funcionaram… Sempre alguém precisa dar uma “sofridinha” pra outros darem risada, né?! Abração… bom te ler por aqui

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