Deficiência e trabalho em casa

Jairo Marques

O bom de ser contemplado com meus “cinco ou seis” leitores 😀 é que sempre tenho novidades de gente que abre caminhos de inclusão, de cidadania e de levar a vida com dignidade (e com ‘malacabação’) em minha caixa postal! Aêêêê

E hoje para mim é motivo de muita felicidade essa proza porque é de um leitor que me acompanha há muuuuuitos anos, meio quietinho, mas sempre participativo, sempre apoiador, sempre à disposição para se juntar na construção de um mundo melhor.

O Carlão Araújo tá sempre nos encontros do blog. Leva toda a “famiagem”, mas fica meio quietinho numa mesa mandando ver na ‘manguaça’! 😉

Ele vai explicar um bocadinho “proceis” tudo como é trabalhar em casa!!!!! Pô, isso é uma solução “maraviwonderful” para muita gente com mobilidade reduzida. Bem organizado, o trabalho de um funcionário direto de sua residência é vantajoso tanto para a empresa (que tem menos custos) como para o empregado (isso ele explica direitinho no texto).

Essa modalidade de trabalho ainda é pouquíssimo explorada no Brasil. O texto do Carlão mostra que é uma iniciativa séria, válida e útil. Aí eu pergunto, nem assim, será que o empresariado consegue cumprir a Lei de Cota? #Ficaadica

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O Jairão me deu a oportunidade de compartilhar com vocês uma experiência muito legal que aconteceu dentro da empresa que trabalho.

Antes, preciso conto um pouco de como ingressei para a “Matrix”. No diagnóstico médico consta que tive uma encefalite viral, mas, comparando com pessoas com as mesmas características minhas, vejo que posso ter tido um AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Nasci e cresci em São Paulo e em fevereiro de 1971 fui para Campina Grande (PB). Uma nova oportunidade de emprego de meu pai. Em 19 de Junho daquele ano, eu com 16 anos, acordei com uma dor violentíssima na cabeça, entrei no banheiro e tranquei a porta.

É a última coisa de que me lembro. Depois me contaram que estive em coma por mais de 30 dias e quando acordei, meio despirocado da cachola, estava de volta à São Paulo, deitado em uma cama de hospital sem poder me mexer ou falar.

Antes de tudo isso acontecer, praticava ginástica olímpica e  demais atividades esportivas do colégio. E, naquele momento, tive que me contentar com os monótonos exercícios de fisioterapia, no dia 14 de Outubro daquele mesmo ano já ensaiava novamente a dar os primeiros passos.

As sequelas deste trem todo culminaram em uma hemiparesia dos membros superior e inferior esquerdo. Meio relutante, mas bravamente estimulado por minha mãe e antigos professores, voltei para terminar o antigo colegial e, depois, me formar em Matemática na FMU.

Nesse meio tempo, para aliviar uma “deprê” que batia , pegava minha “Caloi Dez” e ia muito cedo dar umas voltas pela USP. Muita água rolou por baixo da ponte e até um mochilão pras Europa encarei e, em 19 de julho de 1989, comecei a namorar a Rosely, com quem sou casado até hoje, e temos a nossa filha de 16 anos, Carol, que por sinal, em 19 de junho de 2012, publicou um post no Facebook sobre o quão importante sou para sua vida e que me deixou comovidíssimo.

Agora… “senta que lá vem história”!

Sou funcionário da HP e presto serviço para a Unilever, no bairro de Santo Amaro (18 quilômetrosum ponto a outro).  Para me locomover utilizava ônibus fretado que pegava próximo de casa.

Uma mudança, já anunciada, fez com que todos que lá trabalhavam fossem deslocados para um de seus sites, localizado em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Estava entre a cruz e a caldeirinha, se fosse trabalhar de carro teria um gasto substancial em meu orçamento e se fosse de transporte público, uma verdadeira maratona olímpica: metrô na linha Verde, baldeação para a linha Azul seguindo até a estação Jabaquara e depois uma caminhada de mais de800 metrospara aguardar o circular da HP.

Estando no novo site, enviei um e-mail para meu gestor explicando a dificuldade encontrada para chegar até lá e, para minha surpresa, após dois dias eles me deram uma opção de poder trabalhar remotamente, em casa. Os mesmos Direitos, Deveres e Benefícios dos funcionários que lá trabalham foram mantidos e, também, disponibilizado um notebook que me permite realizar as mesmas tarefas que fazia anteriormente.

Essa prática já vem sendo adotada por muitas empresas e, se pessoas com limitações físicas na locomoção pudessem acessá-la, teríamos um ganho considerável na qualidade de vida. A empresa, por sua vez, teria um diferencial significativo no processo de inclusão e diversidade.

Em um primeiro momento, trabalhar remotamente nos induz a pensar em algo ruim para o crescimento profissional, uma vez que deixa de existir a convivência corporativa, mas a tecnologia cada vez mais nos fornece ferramentas para que esta interação aconteça.

Como tenho que cumprir o mesmo horário da equipe e para não deixar que a preguiça tome conta, mantive a mesma rotina que fazia para ir de casa ao trabalho, com exceção de um vestuário mais social.

Quanta chuva ou frio já passei esperando por uma condução, quantas vezes cheguei atrasado por causa do trânsito, quantas vezes já me desequilibrei e cai, quantas vezes fui trabalhar indisposto.

Sei que estas desventuras não são somente minhas, mas quem pertence à “Matrix” sabe muito bem que estes pequenos detalhes tornam-se enormes para nós.

Enquanto todas estas adversidades já fazem parte do passado, é importante destacar a necessidade de se ter um ambiente de trabalho adequado e em fazer algum tipo de atividade física, pois trabalhar remotamente também significa não mais se locomover até o trabalho e, para a minha carcaça avariada, é um fator muito importante, e para minimizar esse desgaste, dou belas pedaladas em bicicleta ergométrica aqui de meu condomínio.

Em tempo, quando contei sobre essa possibilidade para minha mãe, ela me pediu o nome do meu gestor para incluí-lo em suas orações diárias.

Comentários

  1. Estou muito feliz trabalhando em casa no tempo livre e isso esta ajudando com as despesas da minha pós graduação. O meu trabalho consiste em fazer divulgações de uma empresa que esta no mercado a 13 aos, a FR PROMOTORA, é um serviço simples que qualquer pessoa que tenha força de vontade pode fazer e conquistar uma ótima renda mensal, dependendo do empenho de casa um. Enfim ta ai minha dica, boa sorte pra quem se interessar
    Se tiver interesse em fazer parte da minha equipe:
    http://www.frpromotora.com/karinasó661665
    Meu E-mail: karinafisio13@gmail.com
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  2. O Carlos é um exemplo de superação para todos nós ditos normais. Tenho muito orgulho de um dia ter trabalhado com ele e de ter sido por alguns anos o seu Supervisor. É um camarada que sempre está de bom-humor, não reclama de abasolutamente nada e que nunca faltou no trabalho um dia sequer. Coisa rara nos dias atuais…
    Um outro ponto que devo mencionar nisso tudo é que há 18, 20 anos fui impedido de contratar um rapaz que era surdo e mudo como digitador para um CPD. Entrevistei este rapaz escrevendo as perguntas em um word e o rapaz respondendo e já autmaticamente fazendo o teste no mesmo word. Na época me causou um grande desconforto e eu não entendia pq o meu patrão (um médico!!!) não me deixou contratar uma pessoa ABSOLUTAMENTE NORMAL que apenas não falava e ouvia… foi revoltante. Foi puro preconceito vindo de uma pessoa que deveria primar pela inclusão (Médico e Empresário). Mas a vida ensinou a este pessoal… Graças a Deus o mundo de hj é bem diferente do mundo de 18, 20 anos atrás. Parabéns Carlão, vc é um grande exemplo para todos nós.

    1. Eduardo, ainda bem que o mundo mudou bastante! E que bom que sua mentalidade já é revolucionária há bons anos! Grande abraço

    2. Obrigado Eduardo, fico feliz de te encontrar por aqui e deixar este comentário. Um grande abraço.

  3. Oie Jairo… A prefeitura do Embu, piorou. Até a vacina de gripe que sou obrigada a tomar pois minha penumologista da AACD, decreta todo ano a obrigatoriedade do uso dela, tenho que falar até quase com o bispo todo ano pra poder tomar, pq com laudo e tudo eles tentam não fornecer, e preciso pois devido a minha osteogenese tenho um agravamento pulmonar que se complica facilmente quando fico com uma gripe forte, minha restrição respiratoria é considerada gravissima, e a medica diz sempre que sou um poço de milagre, pois nunca precisei de balão de oxigenio e me mantenho respirando e tendo uma vida “normal”, só que antes com inumeras internações por broncopneumonia, e asma, coisa que agora graças a Deus vai ai um ano de benção vida tranquila. Mais infelizmente a prefeitura do Embu tb não faz muita coisa, eles apenas tentam camuflar as crianças com vãs adaptadas e centros especiais para que elas estudem separadas das demais, e nisso acham que estão incluindo quando que ao meu parecer estão separando dos demais da sociedade. beijos amigo com o carinho de sempre.

  4. O pessoal onde trabalho que cre so trabalha e produz quem “bate o ponto” precisa ler seu otimo Blog. Vou recomendar! Abcs.

  5. Muito bom ler historias assim Jairo, sou estudante de web desigener curso tecnico, mais o ATENDE não funciona onde moro, Embu das artes, praticamente, ja SP bem na saida, só atravesso uma rua e ja estou em SP. Mesmo assim aqui não funciona, e minha mãe não sabe dirigir, por tanto minha condução é o bom e velho buzão de sempre, se pra uma pessoa “normal” no horario de pico ja é complicado usa-lo, piorou para um “malacabado”.
    beijos querido e continue sempre nos animando…

    1. Claudia, fico de boca aberta com uma situação assim. Realmente, a prefeitura não pode abrir exceções, mas e a prefeitura de Embu, nada?!

      1. O ATENDE só atende a região da Grande SP acredita! Dizem as más línguas que vai passar a atender mais e melhor em breve.

  6. OI tio e todos!
    Muito boa a iniciativa. Quando vi o título, pensei que fosse aqueles empregos que a Lak chegou a comentar, porque realmente estes são lastimáveis. eles pagam para não ter a pessoa em seu espaço físico, não pagam a multa e acham que estão totalmente certos. Cada um sabe o que faz, mas eu particularmente sou contra a este tipo de prática. Agora quanto ao Carlos, já é um caso diferente e confesso que estou quase pedindo para fazer isto por algum tempo por motivos que você sabe tio e anda um tantinho complicaaaado. depois a gente conta para o pessoar do blog, mas muito bom este post para eu ter coragem e tentar uma negociação desta.
    bneijinhos e ótima semana!

  7. Por enquanto, pelo que já observei, essa mudança de postura e mentalidade está restrita a grandes corporações, ainda assim está longe de ser unanimidade. Mas todas as grandes mudanças, até as revoluções, tiveram início tímido para depois ganhar corpo. Uma experiência positiva aqui, outra ali, e de repente a exceção vira regra.
    Um grande abraço ao Carlão e meus parabéns à HP, por ter de certa forma tomado as rédeas da vanguarda no Brasil.
    Tio, retomei blog. Pinta lá.

  8. Poder trabalhar em casa pra quem tem esclerose múltipla, muitas vezes é a única alternativa de trabalho. Infelizmente, aqui no Brasil, a maioria dos esclerosados está aposentado por invalidez porque as empresas não aceitam horários flexíveis ou trabalho em casa. E aí, o povaréu fica tudo deprimido em casa por se sentir inútil e, aí sim, ficam doentes mesmo. Ótimo post! Bjs

  9. Taí uma coisa que adoraria fazer..como fica dificil sair de casa, ja que nao tenho cursos de DVs em orientação e mobilidade e não saio sozinho de casa, ainda tem o lance de ser transplantado com baixa imunidade, imagina sair de casa nos dias de quase neve na serra gaúcha? Trabalhar em casa, e por motivos particulares ( conto só pra ti depois 😉 ) seria uma bênção, porque até hoje dependo dos outros pra comprar até bala de côco. Não tenho as facurdade mas me viro em fazer traduções ingreis-portugues e vice-versa e tb me motivaria a fazer um curso de italiano pra ter um diferencial. Se alguem pudesse me dar uma luz, agradeceria muitcho!! De resto, meus parabens a HP e espero que essa modalidade de trabalho se firme aqui em Pindorama. Abraço!

  10. Parabéns a todos os protagonistas dessa estória! Ao Carlos Araujo, pela superação de ir atrás e conquistar seu espaço. A empresa que se solidariza com seus funcionários. E a vc meu querido Jairo, por trazer a público essas estórias que servem de incentivo para todos! Obrigada meu querido, pela sua sensibilidade! Bjokas!

  11. Ótimo post….fica a dica para as empresas, que tenham mais iniciativa e prestem atenção nos beneficios que esse tipo de trabalho fornece para ambos os lados.E principalmente, nós, pararmos com aquela impressão de que, quem trabalha em casa não trabalha.Esse post é o exemplo do contrário….

  13. Parabéns ao Carlos Araújo com sua longa história de superação, que deve servir de exemplo aos mais novos.

    Parabéns também aos gestores que patrocinam e implementam esse tipo de alternativa, num jogo que, para empresas e trabalhadores, tem tudo para ser um ganha-ganha.

    Não conheço a legislação que regulamenta o mercado de trabalho para portadores de deficiências físicas.

    Porém, os nossos deputados bem que poderiam olhar com mais atenção para os resultados práticos dessas iniciativas e propor alterações na legislação no sentido de incentivar a inserção desses trabalhadores no mercado de trabalho.

    Por exemplo, propor que o Congresso aprove mudanças na legislação, isentando empresas e trabalhadores das inumeráveis taxas e impostos que incidem sobre a folha de pagamento. O que isso custaria para o país seria muito pouco. O benefício certamente seria imenso.

    Não se trata de fazer caridade ou conceder privilégios, mas sim de propor políticas públicas eficientes e de baixo-custo e com forte retorno social.

  14. Eu já conhecia essa iniciativa da HP,muito bom a valorização do funcionário,ele trabalha com muito mais disposição,sem enfrentar o transito caótico e outras coisinhas,que sirva de exemplo para outras empresas,acredito que isso se espalhe e rápido,bjs

  15. Acho bem bacana,esse lance de trabalhar em casa,devido a algumas limitações ,tem muitos deficientes com dificuldade de locomoção.E as vezes a pessoa entra em depre e fica sem saber o que fazer.E eu por exemplo não quero trabalhar fora,sou aposentada mas faço muita coisa,além de cuidar de casa sou trambiqueira kkk vendo algumas coisas e abri uma loja virtual ,estou adorando ,um sex shop,posso ganhar ficando em casa.E podemos fazer nossos horários.bjsss querido

    1. Uaaaaaau… eu num sabia que vc tinha um sekxopi virtual!!! Qualé o endereço pra gente comprar umas “lembrancinhas”, heim?! bjossss

  16. Contanto que as pessoas realmente trabalhem, produzam, se sintam úteis, adquiram experiência, acho essa forma de trabalhar excelente.
    Inaceitável são empresas que pagam o cara pra ficar em casa, a toa, sem fazer nada, só pra cumprir a cota. Ou seja, pagam pelo laudo médico e por uma presença teórica na folha de pagamento.
    Enfim… beijinhos

        1. Seria o caso de denunciar esse tipo de golpe aplicado pelas empresas prá cumprir a lei de cotas.
          Mas é preciso ter provas e aí é que fica mais complicado.

  17. Nossa é tão legal saber de iniciativas como essa… Eu como sou uma ótima batedora de perna adoro vir trabalhar. Mas é uma ótima saída para quem não pode fazer isso todo dia.!!! Eu mesma já trabalhei remotamente no meu primeiro emprego e foi ótimo, adquiri experiência , ganhei meu dinheiro e me senti útil de poder colaborar com uma empresa e ser parte de uma equipe! Bjs

  18. Ótimo post! Fica aí a pergunta para outras empresas: por que não obter a mesma quantidade e qualidade de serviço, contribuir para a qualidade de vida do funcionário (e, como consequência, aumentar a sua produtividade), ajudar o meio ambiente (evitando mais um automóvel nas ruas) e ainda por cima sair bem na foto?

  19. Jairim, aqui na Camiranga e arredores povim trabalha de casa, do home office. O Sequóia mesmo é um, que há anos faz isso. Economiza tempo e dinheiro (com gasolina, metrô, roupas) diminui o stress do vivente, aumenta o convívio familiar, e se o trabalhador for disciplinado e cumprir o horário direitinho aumenta a produtividade. Com uma boa Internet, webcam e o escambau o convívio com os colegas continua acontecendo, em tempo real. Eu acho uma maravilha, que bom que algumas empresas aí no Brasil estão implementando esse esquema de trabalho como mostrou o texto do Carlão. Beijim pr’ocê

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