Os coitadinhos

Jairo Marques

Toda vez que a TV anuncia que irá exibir algum programa que envolve o povo “malacabado”, parte dos prejudicados dos esqueletos, das vistas ou dos “zovidos” fica de calundu, pois sabe que mais uma bobagem que não retrata em nada a nossa realidade irá chegar ao grande público.

O poder de exibir os “dramas” pessoais e dizer que um caboclo que voltou a trabalhar depois de um acidente é um grande exemplo de “superação” é imenso para pregar o olho da audiência na tela, mas inútil para a conquista de uma nova realidade inclusiva.

“Tio, mas qual é o problema disso, heim. Não é legal mostrar pro povo que a gente dá uma sofridinha básica?!”.

Meu povo, quando mais se acentuam nas pessoas com deficiência características de coitadismo mais distantes elas ficam de serem cidadãos com direitos e deveres e mais próximas ficam de ser “necessitados especiais” e alheios ao cotidiano, ao todo. 

Desenho de uma criança abraçando uma TV, que sorri e solta corações

É do jogo da vida de todo mundo enfrentar cobras e lagartos para seguir adiante. Qual era a outra saída do maestro João Carlos Martins não fosse ele insistir em tocar seu piano mesmo com dores, com os dedos todos esquisitos?

Não ser mais um maestro, não ser mais um músico… correto?

Foi uma opção dele, por sinal uma ótima decisão, de querer e insistir dar um jeito para seguir com a música em sua trajetória. Isso faz dele uma “lição de vida”? Eu não sei. Pra mim, faz dele um cara admirável e que merece o respeito de todos.

Então, avalio que as pessoas têm de saber que os “matrixianos” não querem viver em um mundo paralelo cheio de mimimis. Eles querem é, a sua maneira, seguirem sendo ou sonhando em ser o que bem entendem. 

Desenho de um maestro bem doido regendo

Quero que as pessoas entendam que eu posso ser um jornalista, apesar da minha severa deficiência física. Entendam que minhas limitações não implicam que eu tenha de ter uma vida regrada.

Com condições de igualdade, com respeito às diferenças, dá pra todo mundo se manifestar e seguir em busca de seus destinos dando vazão a talentos, vocações, desejos.

Mas o que mostram os programas de TV? Mostram o caboclo lá suando bicas para se equilibrar num aparelho ortopédico, passando raiva por ter tido uma perna amputada ou simplesmente como um herói por ter retomado uma rotina depois de ter ficado todo ‘bagaçado’.

“Ah, mas o blog também mostra histórias de gente que se reinventou…”

Claaaaro, zente! Sou totalmente favorável a mostrar caminhos pro “galerê” que tá vindo aí, de mostrar inspirações, de mostrar que é possível seguir adiante. Mas a exploração da dor, da desgraceira que a gente padece todos os dias para se firmar como “serumano”, a meu ver, não agrega em nada.

E é assustador a quantidade de pessoas que ainda aceitam e se submetem ao papel de coitadinhos, de vítimas das desgraceiras do mundo, de necessitados e impossibilitados de correrem atrás.

Bem, aí fica fácil para que viremos massa dos programas de entretenimento que dão casas e cadeiras de rodas, de políticos que prometem muletas, de reportagens vazias que só dão ao espectador a sensação de alívio: “puxa, deve ser uma dureza ser assim. Ainda bem que não é comigo.”

 Tá passando da hora de a gente exigir e tentar direcionar melhor essa exploração intensa da imagem da deficiência. Mostrar que com mais cidadania, todo mundo vai viver melhor, mais harmoniosamente e menos capenga, menos dependente e ‘sofredora’!

 

Repórter todo risonho cheio de equipamentos no pescoço e uma filmadora na mão

Os jornalistas vão sempre querer explorar o caminho mais fácil: a deficiência como castigo, como um mal absurdo da vida. É isso? Bem, é óbvio que ter uma ‘malacabação’ é algo terrível, mas essa “derrota” eu já tenho…. e como é que eu faço?

Quero gente é que me ajude na defesa e reconhecimento dos meus direitos, gente que me ajude a ‘arrastar’ o carro do transgressor que usa a vaga reservada.

Quero que meu colega de trabalho me veja como alguém para colaborar e não para me encostar em uma empresa, quero ser visto como alguém com potencial para fazer o que eu bem entender… Quero ser retrato como ‘serumano’ capaz dentro de minhas limitações.

* Imagens do Google Imagens

Comentários

  1. Jairo estou trabalhando a temática Acessibilidade Cultural, para meu TCC e seu blog é parada obrigatória para mim desde o dia que o conheci. Ontem fiquei acordada até mais tarde para assistir o referido programa e fiquei com uma sensação enorme de vazio e comentei com meu companheiro “que sensacionalista” eles fizeram o programa só para falar do maestro? Foi isso que eu senti, usaram o programa inteirinho só para dizer que o maestro iria fazer uma cirurgia. É uma pena. Eu como estudante não absorvi nada para meu trabalho de pesquisa. Gostei muito desse post e o que você fala “Quero que as pessoas entendam que eu posso ser um jornalista, apesar da minha severa deficiência física. Entendam que minhas limitações não implicam que eu tenha de ter uma vida regrada” resume muito o que gostaria de mostrar na minha pesquisa.
    Abraços e até mais

  2. BROTHER JAIRO

    De todos os artigos que já li no seu blog, te confesso que esse foi o que mais gostei, por ser tratar de um assunto que é pouco comentado, mas que devia ser mais discutido, não só entre os deficientes, mas na sociedade como um todo.
    Eu sempre costumo a dizer, chego a ser até repetitivo por ter falado isso inúmeras vezes, que não existe nada mais contraditório do que um deficiente que vive gritando pros quatro cantos que quer ser visto em pé de igualdade perante a sociedade e em contra partida, assume a postura de exemplo de superação, como se a sua deficiência lhe desse aval pra ser um integrante dos AVENGERS, ou do X-MEN.
    Fora que muito do que nos acontece de injustiças, seja ela na falta de acessibilidade, ou questão trabalhista, etc, se deve ao fato de que o brasileiro não encara a solução desses problemas, mas apenas se apega ao problema pura e simplesmente.
    Enquanto todos nós passamos por situações do gênero, pela total falta de informação correta que não chega às massas, imbecis metidos a super-heróis dão palestras “motivacionais” em faculdades e empresas, se colocando acima do Bem e do Mal, só porque o sujeito voltou a ter uma vida normal após ficar numa cadeira de rodas, por exemplo.
    Esse mesmo imbecil podia estar palestrando nessa empresa pra passar informações sobre acessibilidade e a necessidade das pessoas com deficiência entrarem no mercado de trabalho, o que está sendo feito pra mudar o que está errado e pontuar o que está dando certo. Mas sua necessidade, comandada por um fortíssimo problema de auto-afirmação, de se colocar como o Super-Homem perante os outros é sempre mais forte.
    O que vou escrever abaixo vai ser em caixa alta pra ninguém vir encher meu saco depois:

    É ÓBVIO QUE EU SEI QUE NEM TODO DEFICIENTE AGE ASSIM E EU TAMBÉM TENHO CONSCIÊNCIA DE QUE MUITOS DEFICIENTES TRABALHAM DANDO PALESTRAS LEVANDO INFORMAÇÕES RELEVANTES E DE QUALIDADE PRA TODOS.

    Porém, pra cada deficiente que age de forma correta, vem um X-MEN e zoneia a bagaça toda outra vez.
    Aonde quero chegar com esse blá, blá, blá todo é o seguinte: pra alguns deficientes, o “Coitadismo” virou marketing pessoal e importante fonte de renda. ACORDEM, CRIATURAS! ESSES CARAS NÃO DEFENDEM A GENTE EM NADA, ELES APENAS NOS SUGAM!
    Então vem a pergunta: será que o fato de uma matéria, como a do Profissão Repórter, ser produzida com requintes de novela mexicana se deve ao fato de que a mensagem que chega é sempre daquele bunda-mole (ops! Desculpa, sou muito mal-criado) que prefere passar a mensagem de “exemplo de superação”? Pois pra esse sujeito, ele precisa passar a idéia jeca de líder, colocando toda uma classe, digamos assim, num mesmo balaio de gatos.
    Digo isso por acreditar que pra cada deficiente que realmente procura passar informações relevantes, pra que possamos alcançar a tão sonhada posição de igual pra igual, existem outros 4 ou 5 AVENGERS que preferem ser vistos como super-heróis e adoram passar essa imagem pras pessoas.
    A produção do Profissão Repórter pecou vergonhosamente em não ter pesquisado direito, ou de ter ouvido as pessoas erradas, antes de fazer uma porcaria de reportagem que não condiz mais com aquilo que os deficientes realmente querem e precisam: ser tirados do pedestal e colocados na condição de seres humanos.
    Porém, nós também temos nossa parcela de culpa: nós aceitamos, de uma forma ou de outra, que alguns de nossos semelhantes vendam a imagem do deficiente, e nos represente como cidadãos, da forma mais irresponsável possível.

    LONG LIVE TO ROCK AND ROLL, LONG LIVE TO BIG JAIRO…KKKKKKKKKKKKKKKKKKK

    1. Cara, a força do seu depoimento precisa, no mínimo, ser respeitada…. do meu lado, eu adorei e vibrei… e pronto… abraço

      1. Há muito tempo que vejo esse tipo de coisa acontecer. Confesso que considerei o seu artigo propício pra um desabafo…rsrs.
        Fica difícil cobrar uma postura mais consciente da mídia, se entre nós existem deficientes que aplaudem essa água com açúcar.
        É uma pena que entre nós mesmo existam alguns que não enxergam que todos, sem exceção, saem perdendo com esse raciocínio. Isso sem falar naqueles que aproveitam a deixa pra ganhar dinheiro e notoriedade em cima do sensacionalismo e da ignorância.

    2. Onde dou o curtir desse comentário!
      Dudé, vc mandou MARAVIWONDERMENTE bem, traduzindo tudo o que eu penso.
      Eu tenho meu blog há 3 anos, que virou referência entre implantados e nunca ganhei 1 centavo com ele, sabia? Meu ganho é saber que alguém corre atrás do IC por causa do blog, que foi passar informações verdadeiras pra outra pessoa e era isso.
      As contas, eu pago trabalhando como qq pessoa.
      Beijocas

      1. Lak, tô na mesma. Dou entrevista, vou em rádios, escrevo textos a pedido, dou palestra e nunca ganhei 1 centavo pra isso. E, se um dia ganhar, é pra dizer o que o Jairo, o Dudé, vc e eu pensamos… é pra ESCLARECER, não pra eu ser um exemplo. A prática do “coitadismo” é extremamente disciplinadora… não parece, mas é. Ao mesmo tempo, é um alívio ter com quem compartilhar essa idéia de protagonismo.
        Beijos.

      2. Eu não vejo problema algum em alguém ganhar pra fazer palestras. O que questiono é o conteúdo da palestra.
        Pra que uma pessoa dê palestras sobre determinado assunto, é necessário ter ganho de causa, conhecimento e domínio desse assunto.
        Se eu junto algumas pessoas num anfiteatro só pra eu contar a minha história de vida, na minha humilde opinião, isso passa muito longe de ser uma palestra.
        Mesmo assim, o pior não é isso. O verdadeiro estrago está em juntar um monte de gente num recinto pra reforçar estereótipos, ao invés de derrubá-los. E ainda ganhar uma graninha pra fazer isso.

  3. Jairo, li o post e todos os comentários e nem tenho o que comentar. Vc já disse tudo o que penso… que sem graça! hahahahah…
    Beijo e te admiro sempre mais.

    Ps.: o pior desse tal programa foi a chamada no comercial: “Pessoas que superaram TRAGÉDIAS PESSOAIS”. Tragédia é eu ter que ouvir isso e ainda ter que achar que estão nos prestando um favor em mostrar deficientes na TV. Fala sério!

  4. Jairo, não assisti ao programa do Caco Barcelos, então não me sinto à vontade para opinar sobre a linha adotada, principalmente por haver divergência de opiniões.
    Mas posso complementar o que disse para a Lak, né?
    Pode ser que, à época, a frase atribuída a Joãosinho Trinta “quem gosta de pobre é intelectual” fosse verdadeira. Hoje essa ‘predileção’ cabe a apresentadores de TV ávidos por uns pontinhos na audiência. A cara de hemorróida exposta que o Gugu Liberato faz naqueles quadros piegas cheios de pobres e malacabados é digna de um Oscar. É lógico que ele não tá nem aí, mas atinge seus objetivos mercantilistas e tem seu séquito na forma de apresentadores de TV de todas as outras emissoras, cada um ao seu estilo. Infelizmente, isso dá ‘ibope’, não tenho certeza se pelo alívio que as pessoas sentem ao perceber que sempre existe algúem mais lascado do que elas, ou por que diabo de motivo grotesco.
    Em resumo, o que vemos nesses programas, na qualidade de protagonista, é o coitadismo ou o heroismo do coitadinho. Concordo com a Monikita (linda, saudades!) que algumas pessoas se vêem dessa forma e, assim, topam aparecer e contar sua história dramática e heróica.
    Conheço o trabalho do Caco Barcelos há alguns anos, já li um par de livros dele, e ficarei bastante surpreso e decepcionado se descobrir que ele descambou para esse tipo de ‘jornalismo’. Alguém aí pode me dizer qual é a emissora que veiculou o programa, para eu tentar uma cópia? Não descarto um escorregão ou uma expressão mal colocada, mas para mim é difícil conceber a intenção dele de fazer sensacionalismo.
    Renata, concordo que a execução do nosso hino ficou horrorosa com a regência do João Carlos Martins, porque ele não pôde, pelas dificuldades de movimento, definir o volume e força de alguns instrumentos, principalmente as trompas. Mas, tiro por mim: meu mindinho está devidamente aleijado devido a uma bolada, e não desisti de brincar ao piano. Dói muito quando preciso dar uma oitava aguda, mas o prazer de tocar um instrumento, de cultivar a música na alma (leve isso em consideração em relação ao nosso grande pianista), vale qualquer sacrifício. Isto não faz dele um coitado ou herói , mas apenas alguém que se recusa a deixar de interagir com o que mais ama. Isso, sim, eu acho admirável.

  5. Os programas que passam no fim de semana na TV aberta ADORAM transmitir a mensagem de “Ó meu Deus, como conseguem viver com tanto sofrimento…” ou de superação por conquistarem o que para a maioria preconceituosa seria improvável. Tem até aquela musiquinha fúnebre de fundo. As pessoas com deficiencia que se sujeitam a esta exposição é em troca de alguma ajuda do programa, mas muitas vezes também se vêem desta forma… coitadinhos ou heróis.
    Beijocas

  6. Grande Jairão!! Sabe quando eu morro de pena de mim? Quando eu tenho que conviver com tanta pieguice e teoria do coitadismo! Tudo na linha do “ai que sorte que não é comigo”!Chô exploração da imagem da pessoa com deficiência. Fica parecendo pátio dos milagres!

  7. Nem heróis nem coitadinhos. Em vez de dó ou admiração que tal promoverem um mundo acessivel e sem preconceitos?

  8. Super concordo Jairinho!
    Aliás, estou aqui planejando meu doutorado em cima disso (de verdade!… foi incrível (mas não fiquei surpresa com isso) o que eu achei no meu mestrado sobre como retratam a pessoa com deficiência.
    Tanto que, escrevi que não sei se o que acontece nos dias de hoje é um reconhecimento da pessoa com deficiência na sociedade ou uma exaltação da superação das deficiências.
    Bjs

  9. Eita tiooo que o senhor tá mais brabo que cachorro de japonês, kkk.
    você tem razão. Odeio quando as pessoas acham que eu sou um exemplo de vida só porque não enxergo, trabalho tenho um filho, um cachorro e só faltou um papagaio, mas esta parte eu faço bem falando que é uma beleza, rsrsrsrs.
    concordo com você, pois tem pessoas com muito mais exemplos nesta vida. e quando falam que somos especiais. Nossa, exclui todo o resto.
    ai tio, nu vou falar tanto hoje porque tou muito dodói estes dias. Acho que tá fartando vitamina nos próprios organismos, rsrsrsrs.
    Fica com dó de mim vai fica, ahahahahahah.
    depois dá uma lida no meu blog para ler o meu relato da viagem que fiz com o amado. A propósito hoje é niver dele.
    Beijo!

    1. kkkkkk eu não fiquei brabo, não…. acho que as palavras tiveram um tom meio áspero, mas sei que é “do jogo” a gente ter de enfrentar essas discussões. Quem me conhece bem, como vc, sabe que meu discurso é: a acessibilidade, rampas, piso tatil, sinais sonoros e visuais, a gente vai conquistar em breve… mudanças de mentalidade, ainda vão demorar muitos anos…. 😉

  10. Oi Jairo! Sei que vc está falando de um modo geral! Com relação ao programa do Caco, não achei pieguice …sei lá, talvez tenha visto com outros olhos….
    Acho que deve ser difícil pra caramba, mostrar casos de superação sem cair na mesmice…no emocional…no dramalhão! quer queira ,quer não…sempre vamos para esse caminho. Erro de todos nós? acho que sim….!Enfim, é aquela coisa, cada um sabe onde o calo aperta e onde as coisas incomodam…..beijossssss

    1. Ana, admito que eu vi o programa com a “faca na boca” kkkkkk Mas por isso mesmo temos esse espaço de debate… e vamos que vamos!

  11. na boa gostei da reportagem feita pelo profisão reporter foi uma abordagem mais médica sim mas tipo mostrou as pesssoas voltando a retomar suas vidas depois de traumas tipo so ñ gostei de quando o reporter chamou a criança com má formação do membros inferiores de especial mas e sobre o rapaz e sua namorada pra muita gente é sim surpreendente q uma mulher q conheceu o rapaz quando ele ainda ñ tinha deficiência e quando compara-lo em sua nova condição ñ escolher terminar tudo e ele so namorar alguem q ja o conhecesse na cadeira
    abraços Jairo

    1. Cláudia, obrigado por seu coments…. o lance do rapaz eu entendo absolutamente diferente de vc… but!!! 😉

  12. Eu acho natural alguém nos ver e pensar “puxa, que bom que nao sou naquela situação”, afinal se ser deficiente fosse bom todo mundo seria, acho legal sim, mostrar que apesar de alguem ter “virado” deficiente e passado por momentos de revolta ( pra quem ja nasceu assim é mais facil, mas pra quem se tornou matrixiano,nao), conseguiu dar a volta por cima. O ruim é quando a TV se fixa apenas na deficiência da pessoa, sendo que ela é uma pessoa completa. Ex: vc Jairo, nao é só cadeirante, vc é simpático, é jornalista, é bem humorado..acho até que a TV poderia incluir matrixianos em seus programas, nao com aquela história de alguem que virou matrixiano e passa a novela toda tentando se superar, mas alguem como qualquer outro personagem, que namora, que trai, que trabalha, que quase tem um enfarte porque o juiz é ladrão! Abraço!

  13. Boa tarde sobriho, eu amo música classica, mas estou até as tampas da exploração da coitadisse alheia, é o surfista cego, o maestro que tem problema na mão e toca o hino nacional em um evento internacional que ficou muito ruim, e milhares de outras explorações alheias. Porque não dá ibope mostrar um jornalista cadeirante que vive uma vida como outro qualquer, ou a profissional surda que vive como normalmente ou o cego que faz tudo sem precisar ser coitado. Ai algumas pessoas que me conhecem se perguntam: você é “normal” e não sabe o quanto é difícil” sei sim e valorizo tudo isso, mas não podemos deixar ninguem ser objeto de audiência de nenhum programa de TV. Beijos e valorização do ser humano sempre.

  14. Ontem, um amigo me mandou um email com um questionário sobre PcDs que ele elaborou pra um trabalho (ele próprio tem deficiência) e, em determinado ponto, havia a pergunta:
    “Analise e responda: por que existem pessoas com deficiência que não se aceitam?”
    Minha resposta:
    “Porque existem pessoas que não se aceitam, ponto. Ter uma deficiência não torna as pessoas mais inteligentes, mais sensatas, mais iluminadas, mais abegnadas, etc. Pessoas continuam sendo pessoas, mesmo quando tem deficiência. Deficiência não promove ninguém do degrau de evolução mental humano ou coisa do tipo.”
    Não sei se era bem a resposta que ele queria, mas eu acho um saco esse eterno endeusamento X coitadismo no que toca as pessoas com deficiência. Ou somos uns coitados dignos de pena. Ou somos heróis de superação. Não existe um meio termo, onde somos simplesmente humanos, tocando a vida como qualquer pessoa. Qualquer conquista nossa tem que ser louvada, elogiada, prestigiada, colocada num pedestal. E qualquer fracasso é sempre culpa da deficiência, coitadinho de nós. Tudo tudo tudo tem que girar em torno da deficiência. Nada pode ser analisado por si mesmo, tem que colocar a deficiência no meio.
    Mas, não adianta, eu não vou aceitar isso e achar que tudo bem. Vou reclamar sempre e brigar sempre pra pararem já com essa idiotice. Nem anjos nem demônios, seres humanos somente. O resto é detalhe!
    Beijos

    1. Estava pensando justamente nisso ontem, Lak. E olha que não vi nem as chamadas do tal programa de TV. Eu trabalho numa megaempresa com cerca de 75.000 funcionários. Na minha área são mais de 500 (somos minoria he he), e trabalho diretamente com uns 40. Pois bem: nenhum tem deficiência e a maioria não se aceita. Exatamente nesse sentido abordado pelo seu amigo. Essa questão de se ‘aceitar’ ou não passa longe da deficiência física, mental ou sensorial. É uma questão psicológica. É se gostar ou não, se amar ou não, curtir o que se tem em matéria de amizades, família, trabalho, qualidade de vida. Ou nao. O resto são bobagens (que me perdoe seu amigo, mas a pergunta é bobinha), porque não somos feitos somente de matéria, seja ela ‘perfeitinha’ ou precisando de reforma. Enfim, como você mesma disse, somos humanos e assim devemos ser tratados. (Tio Zairo, depois falo sobre o post, tá? É que eu acho a Lak mais bonitinha, então tem prioridade kkkkk).

  15. Oo Jairo! Estou no 5º semestre de jornalismo e em uma determinda disciplina dividos a sala de aula em uma ‘mini’ redação e estamos a produzir um jornal. (2 por semestre). A minha primeira pauta foi justamente como o mesmo tema: Superação. Só que como você mesmo disse no post, é preciso encontrar uma maneira de mostrar que essas pessoas não são coitadas, e não são. FATÃO! Entrevistei duas pessoas. Uma mulher que há 22 tem câncer e a cada dia que passa descobre um novo nódulo e um garoto de 23 anos que sofreu um acidente de moto quando tinha 18 anos e o laudo foi que ele ficaria tetraplégico, mas contra todos os laudos ele virou lutador e muay-thay. Abordei justamente o fato de como eles encontraram, detro de suas limitações, uma maneira de continuar a viver como qualquer outra pessoa. Histórias incrivéis e sem ‘coitadismo’. Eles superaram eles mesmos assim como todo mundo quer se superar todos os dias. Depois posso compartilhar a matéria com vocês e você me diz o que achou da abordagem. Grande abraço!

    1. Aêêêêê!!!! Muito legal, Ariadne…. vc ter a preocupação de fazer diferente, já é um caminho importantíssimo… por favor, me mande o material qdo puder… bjoss

  16. Oi tio!

    Quando vi a propaganda já pensei a mesma coisa. Fiquei tão braba que nem assisti. Mas preciso destacar um contexto social que nos torna heróis. Somos heróis porque muitas vezes ñ nos garantem o mínimo… Aqueles que fogem desta realidade (triste por sinal…) viram heróis não porque fizeram algo espetacular, mas porque conseguem aquilo que todo ser humano busca: amor, trabalho, qualidade de vida, etc. A mídia ñ consegue fazer esta conexão e isto na minha humilde concepção é lamentável porque parece um caminho sem volta, ou seja, continuaremos nos extremos… Heróis ou Coitados. Me resta questionar e ñ vestir nenhuma destas carapuças. Beijo tio!!

  17. A gente precisa tocar bastante alto mesmo o bumbo. Parece que nem muitos dos malacabados estão entendendo muito bem o que acontece! Ou somos vistos como super ou como sub, mas o sub estará sempre nos perseguindo. Será q é muito difícil de entender? Desculpe-me se ofendi alguém. É q passo por isto todos os dias e os meus amigos da matrix tb. E olha q estou na militância há mais de 30 anos! E ainda, pesquisei a identidade dos mallacabados no mestrado e depois, dos pc socialmente ativos no doutorado, o q foi uma pedreira absurda! Ainda continuo “urubusservando” as reações da sociedade frente a nós. bjs novamente.

  18. Pura verdade Jairo! Sempre achei estranho q algumas pessoas ficassem admiradas por que eu estudei, Me formei, Me casei, tive filhos…pra mim é natural. Por que seria diferente? Bjo!

    1. Pois é, Elaine… qual era sua outra opção? Viver numa bolha? Pedir esmola no farol? Obviamente que nossas conquistas pessoas dão um trabalho lascado… e é isso que a gente precisa… precisa que sejam facilitados os caminhos pra gente ser COMUM! 😉

  19. Concordo! Até que é interessante ver como as pessoas superam suas dificuldades, mas a mídia precisa mudar o foco mesmo, abordar o assunto de forma diferente. Só assim a imagem que as pessoas “normais” têm dos malacabados vai ser diferente. Abrax

    1. Eu pergunto: do que adianta mostrar o cara andando de handbike se não se fala dos custos desse instrumento e da falta de cobertura da modalidade?! Enfim…

  20. … é isso mesmo. Tanta coisa para fazer reportagem … Bastava um repórter vedar os olhos, outro pegar uma cadeira, outro “travar” um joelho e um braço, outro tapar os ouvidos e passarem um dia andando de metro, ônibus, escolhendo restaurante, loja, escola e até CONSULTÓRIO MÉDICO, para ver o que precisa ser feito, o que precisa de divulgação etc … ;o))

  21. Jairão.
    Eu não vi nada demais no programa não, larga de ser turrão! Pelo contrário mostrou bem a cirurgia do Carlos , mostrou a reabilitação de várias formas…. E não deixou eles como coitados não… Mas sim batalhadores. Todos os dias a gente corta um dobrado para chegar aos lugares e por que não mostrar como fez com o menino que já tem barreira arquitetônica na porta de casa.
    Acho que quanto mais mostrar em rede nacional , melhor será por que mais gente vai ver!
    Bjs

    1. Fabi, não foquei em nenhum programa específico, mas aceito sua “provocação”. Em dado momento, o Caco Barcelos mostrou uma garota que afirmou ser indiferente pra ela o namorado ter uma deficiência e que ela seguiria com ele normalmente o relacionamento. No que o apresentou soltou: “É mesmo?”… como se namorar uma pessoa com deficiência fosse algo de outro mundo… pra mim, foi mais um programa ruim.. bjos

      1. Enfim aceito sua opinião mais não concordo. Fica parecendo que só a gente que tem deficiencia sabe dizer da vida do deficiente e nem é assim não.

        1. Bem, essa interpretação é sua. Eu não escrevi isso e não corroboro com essa avaliação. Nem sei o que deu margem a isso no post.

  22. desculpe Jairo se estou cometendo uma injustiça com você, mas há tempos te enviei uma informaçâo valiosa para todos que necessitam algum suporte tecnológico para viver a inclusão social .Lembra? O banco do Brasil tem uma linha de crédito de até R$ 30 mil ,para quem precisa de cadeira de roda,andador, impressora em Braille,adaptação de auómóvel,etc.Direto com o gerente, não precisa ter conta no BB.Site da Secretaria Nacional de Direitos Humanos/ Promoção dos DH de Portadores de Deficiencias.

    1. Dóris, obrigado… recebo muita coisa e, infelizmente, não dou conta de prestigiar a tudo. Um abraço

  23. Aff… Onde eu assino, tio? kkkk…
    Concordo demais!
    E também concordo com Suely Satow. Há pessoas que me tratam como se eu tivesse 05 anos (claro, porque além de ter uns problemas na lataria eu também não tenho condições psicológicas ou psiquiátricas de virar uma adulta, né?) e outras que me tratam como se eu fosse a Mulher Maravilha (apesar de que ter um avião invisível seria melhor que pegar ônibus ou penar pra comprar carro com desconto).
    Já virou até piada entre meus amigos mais chegados uma situação que vira e mexe acontece comigo e, acho, com mais um montão de malacabado: aquela pessoa que não pode te ver e solta logo: “Você é um exemplo!” Como dizem na minha terra, isso me “taia o sangue”. Ok, a vida me deu limões e cá estou eu toda pimpona todo dia misturando gelo, açúcar e cachaça. Mas quem é que não tem que fazer sua caipirinha todos os dias? Eu até aceito que a história de alguns possa servir de inspiração para outros, mas que tal mostrar também que se as leis fossem postas em prática, a cidadania plena estaria garantida? Que tal mostrar aos empresários que contratar “matrixianos” vai além de uma obrigação legal? Que tal mostrar também que as famílias e as escolas falham feio quando o assunto é reconhecer o outro como ser humano, antes de qualquer rótulo: negro, branquelo, judeu, deficiente, gordo, magro, cruzeirense…? De mais a mais, queria ver se continuariam me achando “um exemplo” se tivessem que passar uma TPM comigo.
    Bjão, Jairo!

  24. Mais uma vez, o seu post toca fundo na questão e com toda a clareza. É terrível ter que repetir mil vezes que um portador de deficiência não é um coitadinho, é alguém que quer igualdade de condições. Fantástico, Jairo!

  25. Jairão, tô confuso. Achei que o programa até contou as histórias com pouco pieguismo, mostrou uma namorada sem preconceitos pelo fato de seu namorado ter perdido o movimento das pernas, denunciou a falta de acessibilidade nas ruas, mostrou uma atleta e um músico continuando a perseguir seus sonhos sem muito coitadismo… Confesso que havia achado as matérias na direção correta da inclusão. Achei em conformidade com o que tenho lido no blog de algumas pessoas que conheci por aqui. Como você falou, assunto “tenso”. Mas a discussão é boa para crescermos juntos. Grande abraço, Fábio

    1. Fábio, vi apenas partes do programa, apesar de admitir que foram as chamadas dele que me motivaram a escrever o post. Em tudo que vi, senti pieguice, senti um tom de “comoção” gratuito. A sociedade já sabe que ter uma deficiência é um perrengue daqueles… o que a gente precisa é refinar isso… mostrar que as pessaos malacabadas estão aí no mercado de trabalho, tendo família, praticando esportes… A gente não vive apenas no hospital tentando sarar… enfim… o debate é bom! Abraço

  26. Quero mais Jairos Brasil afora pra gente não ter que ter mais que ver reportagens do tipo “puxa, deve ser uma dureza ser assim. Ainda bem que não é comigo”, como você bem descreveu!
    Bjs
    Erika

    1. Pois é, Erika… acho até que, às vezes, mostrar o drama de ser “cegão” em uma cidade grande pode até ser válido para sensibilização, seja lá o que isso for. Mas o que a gente vê é seeeempre isso… é sempre o sofrimento…. Mas a dureza que enfrento nas calçadas da cidade não pagam minhas contas…. então… temos de avançar nessas coberturas e temáticas!

  27. Concordo em nº , genero e grau com vc. Ou a gente é visto como coitados ou sub, ou o seu contrário, o super, q apesar da def. pode fazer as coisas q faz. Ou seja, ainda não somos vistos como seres humanos como todo mundo q se acha “normal”. O pior é q o sub está sempre colado no super, ou seja, quem não conhece o (a) caboclo(a) vai achar q ele (a) é um (a) coitadinho(a) e nunca irão ver um ser humano, um cidadão com direitos e deveres, capazes de fazer o q nós queremos fazer, apesar das nossas limitações. Jamais irão nos olhar como iguais a eles (seres humanos e “normais). Fazendo e aceitando isto, nós jamais iremos sair do mundo da “matrix”, do mundo paralelo. Bjs.

    1. A gente vai sair, mas batendo o bumbo, Su…. mostrando caminhos… cobrando nova mentalidade, não é mesmo?! Bjosss

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