Inclusão tem de ser para todos

Jairo Marques

Há algumas semanas recebi um manifesto organizado pelo pessoal “cegão” levantando uma preocupação que considero legítima: o debate e as conquistas pró-inclusão do povo ‘malacabado’ está avançando mais para os estropiados do esqueleto do que para outros grupos.

O documento, que foi levado para várias organizações, reclama que os órgãos públicos (secretarias, governos, fundações entre outros) jogam esforços na eliminação de barreiras arquitetônicas e projetos que visam facilitam a locomoção de cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida, mas deixam de fora, por exemplo, pisos táteis que facilitam a caminhada dos que não veem.

Saquem só um trecho do protesto:

“Citamos a seguir alguns exemplos que demonstram como as políticas de inclusão social e promoção da acessibilidade vêm sendo tratadas de maneira desigual por contemplar apenas uma parcela do segmento de pessoas com deficiência de nosso Estado e Município. Vale lembrar que, segundo os dois últimos censos do IBGE, a dificuldade de enxergar engloba quase metade do total de pessoas com deficiência no Brasil.

Rede Lucy Montoro: Excelente projeto da Secretaria Estadual, que oferece reabilitação de Primeiro Mundo às pessoas com deficiências físico-motoras. Por sua vez, as pessoas com deficiência visual continuam amargando nas filas intermináveis das instituições especiais quando necessitam de reabilitação, de orientação e mobilidade, entre outras capacitações.

Reforma da Avenida Paulista: Excelente projeto da Secretaria Municipal, que implantou trajeto com piso tátil para orientação de cegos, mas que até hoje não teve instalado sequer um semáforo sonoro para que o usuário possa andar pelo trajeto sem correr o risco de ser atropelado nos diversos cruzamentos. Também não ocorreu a instalação de ramais que possam conduzir essas pessoas às estações de ônibus, de metrô ou para pontos de maior interesse público.”

Particularmente, acho muito ruim rupturas entre pessoas de um mesmo segmento. As pessoas com deficiência ainda tem muuuita batalha pela frente para se darem ao luxo de se fecharem em seus nichos. O lema, a meu ver, tem de ser o de “juntos&misturados”.

Mas, o povo afetado do aparelho de colocar lente de contato tem razão? Em partes, sim. Porém, uma atitude pela acessibilidade, a meu ver, não atende apenas alguns.

Pensemos na reforma de uma calçada toda podreira. Consertadinha, ela facilita o passeio do cadeirante, do andante, do cego, do surdo, do idoso, do carrinho de bebê. O mesmo acontece quando se adota uma rampa no lugar de uma calçada.

Não dá para achar que uma ação está “beneficiando” uns e não aos outros. Também é preciso considerar que as medidas inclusivas que estão sendo tomadas ultimamente são emergenciais, são para que o “galerê” consiga ao menos sair de casa.

Reformas estruturais, como colocar um elevador para eliminar uma escadaira, são bem mais custosas e exigem mais demandas de recursos. Em muitos casos, esta se partindo do zero para “alguma coisa”.

Contudo, faltam semáforos com sonoridade? Faltam todos. Faltam informações escritas ou tradutores de libras em lugares de grande movimentação? Existem diversas, em qualquer parte.

A diferença, insisto, está, neste momento, entre o impedimento total de fazer algo (sem rampa, eu não entro!) e a complementação, necessária obviamente, de uma situação de inclusão.

O bacana, reconheço, é sempre pensar integrado na hora de tomar uma medida de acessibilidade. Esse é o mundo ideal, esse é o mundo pelo qual batalhamos. Às vezes isso tem acontecido, às vezes tem acontecido parcialmente.

Mobilizarmos para que as demandas de toooodos sejam respondidas a altura é um caminho para a melhora dessa situação de desagrado. Com mais informação, mais união, mais organização, entendo que o avanço seja mais completo.

Bom final de semana e beijo nas crianças!!!

Comentários

  1. Bote reparo Jairo,que mesmo a imprensa quando vai fazer reportagem de deficiências intelectuais sempre tem um SD …. e sempre um SD pouco comprometido, que estuda, que trabalha, que casa…..dai o leigo pensa que todo SD é assim, outro erro também…., e também sempre um SD com condições financeiras boas, também tem isso.

  2. Sim Jairo! Outro dia mesmo comentei que tenho profunda admiração pelos pais de SD, eles se organizaram….foram estudar…exigiram os direitos, e tudo isso sem nenhum interesse próprio. Diferente dos autistas, quer dizer, pais de autistas, que as vezes estão juntos, as vezes querem benefício próprio…precisa ainda MUITA união.

  3. Jairo! Sabe que essas questões da inclusão….e tudo que envolve é bem complicada.Sentimos(digo sentimos,nós, pais de autistas) que se fala muito na Sindrome de Down… parece que de deficiência mental só existe a SD, a própria forma pedagógica especializada é baseada nos estudos feitos com a SD, que diga-se de passagem, é completamente diferente do autismo, quando vamos procurar escola especializada, algumas, inclusive dizem(e isso recebo relatos de várias mães) que só aceitariam se a criança fosse SD, enfim,mas,por outro lado, somos todos beneficiados em algum momento….questão complicada essa….

    1. Bem interessante esse aspecto que vc aborda, Ana. Isso tem muito a ver com a organização mais adiantada do pessoal com SD, não é não é?! De qquer forma, a sociedade, em todos os seus desdobramentos, precisa entender melhor as diferenças entre as diferenças! bjos

  4. É Leila, quem sabe quando nós todos soubermos escolher melhor nossos representantes…!!! Enquanto isso vamos continuar fazendo barulho!!!Um findi para vocêbjokass !!!

  5. Acho que deve ser uma luta só mas segmentada por necessidades. Os políticos interessados em adotar medidas para melhorar a vida dos deficientes devem consultar representantes de cada segmento para saber qual a necessidade e como ajudar pois só quem passa sabe do que precisa. Mas para o básico como rampas, legendas, sinais sonoros e piso tátil nem precisa de pesquisa, é só usar o bom senso. bjs

  6. desculpe,rsss,as medidas tomadas pudessem ser as mais completas>rampa,piso,sinal sonoro,enfim resoluções mais abrangentes…precisamos continuar saindo de casa para que percebam que somos todos participantes de uma sociedade,da mesma….bjs e um ótimo finde

  7. Manoel parece óbvio mas ainda é necessário,em um país que as politicas públicas são idealizadas para satisfazer as eleições,nada é óbvio,infelizmente.Concordo que deveríamos ter representantes de todos para que as medidas tomadas pudessem ser o mais coml

  8. Grande Jairo, será que seria muito complicado durante a elaboração do projeto conversar com representantes das associações para trocar uma idéia?!!? Tem também a ABNT que pode ser consultada… me parece um tanto óbvio!!! é um excelente final de semana para nós todos !!! Abraço fraterno

  9. Achoque tu tem razão ao dizer que reformas beneficiam a todos ou ao menos,muita gente, como uma calçada boa,com rampas. Mas acho legítima a reivindicação “extra”, a reivndicação por uma rampa na Paulista, ao menos um garçom que entenda Libras num restaurante ou uma áudio-descrição via fone dozovido num teatro. Sei que juntos reivindicar se torna mais fácil,mas cada um sabe onde o sapato aperta. O bacana é nós,como deficientes, nos ponhamos lugar de todos os demais deficientes, tipo um cego se imaginando surdo ou cadeirante por exemplo, acho que isso ajuda. Abraço!

  10. Recentemente presenciei algo que vai de encontro com o tema do post de hj.Tenho participado das reuniões do Conselho da Pessoa com Deficiência de Barueri,e estamos organizando uma Conferência,e nas discussões do que seria necessário,pensou em lugar acessível pra cadeirante,intérprete de libras,quando já estava tudo fechado,perguntei: e a audio descrição?? Tiveram que achar uma solução de última hora,mas conseguiram o profissional para fazer a audio descrição do evento.
    Pensei na Lak quando reivindiquei 🙂
    Abraços Brother!

  11. Olá Jairo!
    Sou vice presidente da SED BRASIL Associação Brasileira de Síndrome de Ehlers-Danlos e Hipermobilidade. Associação na qual sua amiga Katherine Queiroz é Presidente. Estamos com o caso de um menino de 14 anos, diagnosticado com SED. Ele tem disautonomia grave, sofre desmaios se ficar muito tempo em pé. Mora em Ribeirão pIres e se trata no INCOR.
    Então, dentro do ônibus, do metrô, ele passa muito mal e desmaia (efeito da disautonomia). Só que SED é uma doença invisível, ninguém cede o assento para um menino de 14 anos. Ele está restringido em sua vida pois não pode mais sair sem companhia. Estamos lutando para conseguir uma carteira de acessibilidade para ele. Mas como? Ele não é deficiente?
    Abraços

    1. Désirée, conheço outros casos bem parecidos (deficiências invisíveis) e que justificam uma série de direitos. Acho que um laudo médico que relate a situação, pode resolver as burocracias, não?! Vc cita um caso que é relativamente “novo” no debate da inclusão. Somente há poucos anos as pessoas com síndromes raras estão se mobilizando. Acho justo e estou dentro dessas batalhas tb… Um beijo!

    2. Désirée (Jairete, dá licença?), a disautonomia é uma das manifestações da SED e, por si só, entendo que pode ser considerada deficiente a pessoa acometida por essa doença rara. Como o garoto se trata no INCOR, creio que qualquer cardiologista (um neurologista também é indicado) pode fazer um relatório médico que será suficiente para que ele consiga sua carteira de acessibilidade. A questão não se resume ao cansaço exagerado que leva aos desmaios, mas também à possibilidade sempre presente de uma torção nas articulações, naturalmente fragilizadas pela doença.

  12. Talvez, o que tenha te incomodado tenha sido o fato de que a argumentação foi feita em cima das conquistas de outras classes, não apenas reclamar da falta de acessibilidade para aquela classe específica.
    Estou supondo, claro, porque a mim, irrita muito quando alguém briga pela LIBRAS desmerecendo o IC ou a leitura labial/voz oral. Brigar por acessibilidade e inclusão através dela, ok. Brigar pelo reconhecimento dela, excelente. Mas fazer isso agredindo, ridicularizando, criticando o IC, não dá não.
    Por isso, acho que algumas lutas são de todos, outras são particulares. Mas o respeito pelas necessidades alheias tem que estar presente sempre, o tempo todo!
    Abraços

  13. Jairinho, acho que a gente tem que pensar de agora em diante. Ações do passado certamente repercutem no aqui e agora mas temos que trabalhar por segmentos de deficiência.
    Até agora se falava em pessoa com deficiência. Agora temos que nos juntar por categoria “deficiencial”e elaborar documentos listando o que necessitamos.
    Tratar deficiências de baciada não dá mais.
    Cegos devem se juntar e listar suas necessidades específicas, assim como os surdos (o SULP já faz isso) e todo tipo de grupo de pessoas com deficiência.
    Os setores do governo devem ter pessoas que conheçam cada tipo de deficiência e suas necessidades. Se não, acabam fazendo rampa para cego, piso tátil para surdo e legendas na TV para cadeirante.
    O próprio “Samba do Criolo Doido”
    Em vez de criticar é hora de se organizar ou melhor se reorganizar. Beijos

  14. Muito esclarecedor esse artigo. Não tinha conhecimento dessa falta de união entre os deficientes visuais e outros segmentos. Mas sempre tem que ter alguém para alertar essa situação, e procurar soluções adequadas a todos os tipos de problemas. Parabéns.

      1. Acho que não é falta de união entre as pessoas com diferentes tipos de deficiências. É que até há bem pouco tempo se considerava “o deficiente” como um objeto de políticas caritativas. Hoje cada tipo de deficiência pede medidas diferentes, diferentes ajudas técnicas e diferentes abordagens de acessibilidade.

  15. Oi tio, e como não poderia deixar de ser, participei da construção deste documento, rsrsrsrs, tipo arroz de festa, tem briga por uma causa, é só chamar que lá vou eu, ahahahahah.
    Beijinhos e ainda eufórica pelo brinquedo novo!

  16. Oiê Jairinho… faz tempo que eu não escrevo por aqui né??? É falta de tempo, falta de ânimo (isso é comigo), enfim… esse assunto é bem amplo e possibilita outras discussões, mas, posso afirmar que por aqui, as “reclamações” são iguais… embora todos os “segmentos” deveriam caminhar e avançar na mesma direção, existe sim o “puxar sardinha” para cada lado… é natural, e, além da “briga” entre os tipos de deficiência, existe “briga” entre as próprias – vide a Lak e os surdos que não apoiam o IC – enfim… concordo que com a eliminação das barreiras arquitetônicas facilita a vida de TODOS, mas não tem como não concordar que, não lembram realmente das adaptações para os cegos, que, de fato, são mais simples e demandam menos recursos, principalmente dentro das edificações… acho que é isso… hahahaha… bjins

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