A Batalha dos cadeirantes

Jairo Marques

Um fato “surreal” e histórico passou quase desapercebido da imprensa nesta semana: um grupo de cadeirantes bolivianos quebrou o pau em um confronto com a Tropa de Choque da polícia do país.

 Eu já vi muita coisa nesse mundão de gente sem perna, sem braço, que anda arrastado, que nem anda… mas uma batalha campal entre ‘malacabados’ e homens de cassetete na mão, foi novidade ‘demais da conta’, como diria minha tia Filhinha.

 Se eu fosso dono de jornal 😯 , mandaria dar uma página sobre a história… Explicaria direito a situação, mostraria quem são os personagens dessa história, mostrava um bocado de fotos. Caraca, é uma situação muito doida e revolucionária para não ter tido mais espaço na mídia.

 Bem, pelo que sem, o que rolou foi o seguinte: o povo esgualepado da Bolívia tem direito a uma assistência em grana para se manter. Aqui no Brasil também tem. Os deficientes e chumbados em geral que sejam pobre de maré, maré, maré podem recorrer a um recurso pago pelo governo de ostentosos quinhentos “real”, mais ou menos… 😉

 Pois os cadeirantes bolivianos querem um reajuste nesse benefício e foram para a rua protestar. O barraco se armou diante do palácio do presidente Evo Morales, que se elegeu com o discurso de amparar socialmente a multidão de miseráveis do país.

 “O tio, mas esses malacabados não poderiam trabalhar em vez de ficar chorando por ‘ricurso do governo?”

 A Bolívia ainda é um país muito pobre, cujas oportunidades são raras para todos. Numa selva, o leão costuma sempre levar a melhor. Sou particularmente contra ficar amparando as pessoas com deficiência com migalhas em vez de dar a elas oportunidades, mas há situações em que ou se dá assistência básica ou se verá um ‘serumano’ definhando em condições deploráveis.

 Mas e o confronto. Já apanhei uma vez por ter dito isso, mas mantenho o meu pensamento, por enquanto… :mrgreen: . Quem tá na chuva é para se molhar. Se os cadeirantes subverteram limites impostos pela polícia ao protesto, é preciso estar pronto para uma reação, para um revés à atitude.

Obviamente não há igualdade de forças e depois que o circo pega fogo, vai voar rodas para todos os lados, mas se os ‘estropiados’ impuseram um enfrentamento (as imagens e as informações não deixam isso claro. Aparentemente, eles partiram para cima da polícia) têm de segurar o rojão da reação.

 

Cadeirantes frente a frente com a tropa de choque

Sou absolutamente contra usar da incapacidade física ou sensorial para impor escudo de proteção, para abrir portas, para dizer que podemos tudo, pois somos ‘machucadinhos’.

Enfim, quem diria que a gente iria ver uma cena como essa no mundo? Sinal dos tempos… sinal de que estamos ficando, por todos os cantos, mais espertos em relação à cobrar autoridades, cobrar direitos, nos unir para manifestar e exigir.

Achei o vídeo abaixo (cheio de termos ‘errados’) que mostra um bocadinho da pancadaria que deixou alguns cadeirantes, além de naturalmente quebrados 🙄 , meio moídos…. aff

Ah, falando em vídeo, graças à mobilização de centenas de ‘ceitudo’, o menino João, do vídeo do post anterior, conseguiu vaga em uma escola mais perto de casa, recebeu atenção de diversas autoridades dispostas (e envergonhadas) a ajudar…. juntos somos imbatíveis! (mesmo que levando algumas porradas.. ui)

 

Comentários

  1. grande Jairo, essa foi na veia!!! Tomara que sirva de exemplo para nós todos, mal acabados ou não, reivindicar nossos direitos!!! Quanto ao assistencialismo, que seja feito com quem precisa e que possam suprir as necessidades básicas e essenciais de cada um!!! por favor me passa o endereço que estou louco para ir para lá dar porrada nos meganha também…kkkkkk…Abraço fraterno

  2. Quem dera vivesse ahaha são 8 longas horas daqui inté Froripa.. mas vale o cansaço! Inté a vorta!

  3. Jairex, quando vi esta matéria na TV, fiquei chocada e ao mesmo tempo orgulhosa… foi uma mistura de sentimentos! Depois de ler seu texto” meio” que me entendi. Mas vamos combinar: a mídia ñ deu a mínima, nem aqui na internet tem muitas informações detalhadas. Tô doida pra te ver dono do jornal, haahaa! Beijocas!!

  4. Deficiente não necessita de compaixão.
    Necessita de oportunidade.
    Abração, colega de emissora.
    Johnny.

    1. Pôooooo, até que enfim vc veio aqui tomar um café, heim?! Será que eu vou aparecer na TV tb, Johnny?! ahahahaha… abrasss

  5. Aqui no Brasil, pra pessoa conseguir algum benefício,por menor que seja, conta a renda familiar e não a pessoal, e pra receber algo, a familia não tem que ser pobre, tem que ser paupérrima mesmo, eu como remediadinho nunca consegui, é chato depender dos pais até pra comprar chiclete enquanto mulher de militar ganha um dinheirão só por ser mulher( mesmo que inteira), acho injusto. Quanto ao vídeo..não sei quem provocou quem, quem começou tudo isso..mas sair de cacetete na mão contra alguem com problemas fisicos, que podem se agravar, acho covardia. Sei que baderna é baderna, que quem sai na chuva é pra se molhar mas bater em alguém em “desvantagem” ( desculpe o termo) física não me entra na cabeça. Tio hoje vou me despedir de vocês, vou me acalmar lá nas água de Floripa e só lá pelo dia 20 quando estiver mais calminho!! Abraço!!

    1. Caraca, vc vive na praia, nego! ahahhahahah… Bem, se eu mandasse em alguma coisa neste país, jamais te cederia um auxílio de renda. Vc é super capacitado intelectualmente e pode desenvolver ações em qualquer empresa ou outra organização… e “teje dito” abrass

  6. Evo Morales é um bufão, a exemplo de seu coleguinha venezuelano que em breve virará adubo. Pelo que me informei, a questão não é bem reajuste do parco benefício que a galera recebe, mas o corte de uma parcela que o compõe, o que representou uma perda média de 11% no miserê mensal. Achei legal a reação dos caras, que deram a cara a tapa e a cabeça a cacetete. Como bem disse a Lak, as mudanças às vezes precisam ser provocadas de maneira, digamos, heterodoxas. Todo meu apoio aos manifestantes, que conseguiram com sua postura reativa expor ao mundo o (des)governo da Bolívia e a total ausência de uma política social baseada na educação e na criação de oportunidades de trabalho para todos. O custo institucional para o governo da Bolívia (vi a matéria pela BBC) foi bastante pesado, porque ficou evidenciado um incômodo contraponto entre o discurso ‘socialista’ do mascador de coca e a prática endemicamente corrupta de seu governo. Qualquer semelhança…

    1. kkkkkkkk… acho que foi o comentário mais editorializado que vc já deixou em quase anos de quebração de pedra aqui nesse blog, heim?! hahahhahahaha.. abrasss

      1. Caprichei, né? E, olha, se o ‘assino embaixo’ escrito pela Lia Crespo se refere ao meu comentário, aí é que eu vou ficar insuportável.
        Falando nisso, aqui na roça não consigo achar um livro da Lia, acho que o título é Júlia e seus amigos. Gostaria que meu filho lesse – ele já tá no caminho do bem, mas não custa dar um up. Se a Lia ainda estiver na área, por favor me informe o e-mail.

  7. O que eu gosto do seu blog é que não tem discurso coitadista, é sempre “Você tem o direito e o dever de brigar pelos seus direitos, mas espere uma resposta igual a de qualquer pessoa. Não queira tratamento diferenciado só por ter deficiência.”
    Fico cansada dessa mentalidade de que é preciso brigar pelos direitos, mas já esperando um tratamento especial. Acho contraditório!
    Espero, de coração, que nossos hermanos cadeirantes consigam melhores condições de vida. Mesmo que às custas de uma pensão vitalícia paga pelo governo. Mesmo que às custas de muita briga. Mesmo que implique reação da polícia.
    Mudanças são festas dessa forma em toda a sociedade, infelizmente.
    No mais, tô contigo e não abro.
    Beijos

    1. A gente precisa ser vigilante nas posturas para que possamos cobrar do outro, não é mesmo?! Beijosss

  8. Só tinha visto algo parecido no filme “Nascido em 4 de julho”. Quando o personagem de Tom Cruise e outros esguapelados pela guerra protestam contra a guerra do Vietnã e entram em confronto com a polícia. Nesse caso aí, a vida que imitou a arte hehehe. Abraço, tio!

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