Sem música no banheiro

Jairo Marques

Dia desses, um amigo ‘tetrão’ me perguntou sobre acessibilidade em condomínios aqui em São Paulo. De modo geral, as áreas úteis de prédios grandes da capital já possuem acessibilidade.

Até porque, caso contrário, os projetos não conseguem autorização da prefeitura para ser instalados.

Também tenho percebido que condomínios antigos têm feito um esforço para promover o ir e vir de moradores e visitantes. Insisto que com a população cada vez envelhecida, facilitar o acesso das pessoas é questão de saúde pública!

Mas, para um ‘malacabado’ ou qualquer pessoa com mobilidade reduzida ou mesmo que curta fazer eco enquanto canta no chuveiro :-), morar bem não quer dizer bom trânsito em áreas comuns, apenas…

Porta de correr
Exemplo de porta que amplia espaço local e facilita abrir e fechar

Os apartamentos atuais, mesmo em condomínios de médio e alto padrão (nos mais simples nem se fala, nem se vê e nem se pensa), os banheiros tornaram-se desafios absurdos para cadeirantes, gordinhos e espaçosos em geral… 🙄

Já visitei diversos empreendimentos e banheiro se tornou um espaço minúsculo e inviável para a prática de um banhão gostoso seja para estropiados, seja para os “normais”.

Box
Área para banho espaçosa, sem obstáculos para acessar o box

Tudo é ruim nas ‘casas de banho’ atuais: as portas são muito estreitas, o espaço do box só cabe a Gisele “Bintcha” pelada, a pia é minúscula e inviável para acomodação de uma cadeira de rodas em baixo dela….

O mais problemático, contudo, e aí que devemos protestar com vigor, é que os projetos das construtoras são engessados. É praticamente impossível fazer uma ‘refoima’ que permita mudanças que facilitem o acesso.

Pia
Pia com espaço para que cadeira entre e espelho inclinado

Tudo o que se mexa, pode alterar os encanamento tudo, é impossível derrubar paredes (é tudo estrutural), as instalações sanitárias não podem ser rearranjada. É literalmente de arrancar a roupa e chorar pelado no chão, né, não? 😆

Na minha goma, não foi diferente. O “WC” era angustiante. Para entrar nele, só com uma cadeirinha de ‘prástico’ bem da desconfortável.

Sanitário
Vaso sanitário elevado e barra de apoio lateral

Até um dia que enfezei : Lol: e chamei uma arquiteta para pensar uma maneira de facilitar a minha vida. No meu caso, era possível de fazer várias alterações: a porta, a disposição da pia, o espaço de circulação…

E o diabo mora nos detalhes, no caso do povo com deficiência, tem de se pensar que as torneiras precisam de fácil acionamento, é preciso barras de apoio, e piso antiderrapante para casos de pessoas mais velhas ou com problemas no equilíbrio…

Pia
Pia com torneira fácil de abrir e fechar e espelho inclinado

Mas por que raios essa grandes construtores, ‘difinitivamente’, não pensam na diversidade?! Pelamor, gente, é um desrespeito! Qual a complexidade de, pelo menos, prever que uma “casinha” poderá ser ampliada assim ou assada?

Não adianta fazer tudo bonitinho apenas para o conforto do comum. É ultra necessário garantir também as individualidades das pessoas. Eu não moro no hall do meu prédio, muito menos na academia… (quem me dera, ia ficar tããão sarado 😎 )

Comentários

  1. Olá Jairo,

    Se alguns lares podem ser construídos com muito luxo, é possível que isso passe a ser trocado por conforto e acessibilidade. Se as construtoras investirem mais em obras acessíveis e preverem o máximo de necessidades importantes para a variedade de pessoas, isso pode facilitar nossa vida.

    Ainda bem que hoje existem arquitetos inclusivos que pensam em propostas customizadas e exclusivas.

    Abraços!

  2. Post de grande valia para estudantes de arquitetura como eu. São necessidades não pensadas por muitos mas tambem que não nos deixam executar quando pensadas pois as grandes construtoras só pensam mos lucros e pedem projetos pequenos demais hoje em dia. Continue postando mais sobre o assunto, quarto, circulação com as camas grandes, cozinhas, etc.
    Obrigado

    1. Carlos, em compreendo esse jogo de braço que vc relata. Por isso eu acredito que é preciso envolvimento de mais e mais pessoas na cobrança por mudanças.. com pressão, a coisa muda… ninguém gosta de rasgar dinheiro, não é mesmo? Abraço

  3. Pois é… aki em ksa vivo isso diariamente. Não consigo dar banho em minha mãe pq o box apertadíssimo me impede, já q c minha deficiência necessito d um espaço maior.
    Mudando de assunto: consegui a tão esperada tranferência p a cidade onde moram meus pais. Agora vou poder ajudar mais minha mamis. beijos.

  4. Oi, até que enfim alguém falou sobre os absurdos cometidos pelas construtoras no quesito tamanho do AP, tem lugar que não cabe fogão, geladeira, nem mesa do cafezinho, e quando vem os parente de Campo Grande, não tem onde por o povo p dormir, colchão na sala nem pensar, imagine pro pessoal com necessidades especiais, bora pega firme com essa turma.abração

  5. Sou cadeirante há muitos anos.Tive polio.Moro em Santos. Nos anos 50 você imagina as dificuldades de acessibilidade que tive que enfrentar!!!! Foi muiiiiiito duro!
    Mas tive muita sorte de ter uma famíia maravilhosa e um avô que fez tudo por mim e tenho uma casa toda adaptada. Yesssssss!!!!!!! Adoro minha casinha!!!!
    Santos está bem adaptada e corro com minha motorizada na ciclovia . ,… Bem que você e a Thaís poderiam vir aqui.
    PS A namorada do Tiago, a Laís , também adora a ciclovia e muitas vezes corremos juntas. Não é fantástico??????

    1. ahahahahah… eu adoraria ver essa cena, Beth!!! Olha só, eu adoro Santos… torço inclusive pelo peixe ahahahaha.. me chama de novo que cato a patroa e vou!!! 😉

  6. Sobre a questão levantada pelo Tiago Batalhão, é bom lembrar que a lei da acessibilidade (10.098) foi publicada em dezembro de 2000, regulamentada pelo Decreto 5.296, de 2004, que tem o poder de regulamentar também a Lei 10.048/2000, que estabelece prioridades de atendimento (malacabados, idosos, etc). Bão, o decreto diz que a partir daquele momento todas as obras a serem construidas devem obedecer ao que diz a Lei, e fixa o prazo de 40 meses para as edificações já existentes se adaptarem. O texto, por não ser muito claro nesse aspecto, gera dúvida se a Lei se aplica somente a prédios e logradouros públicos ou se vale também para prédios e condomínios. As decisões mais recentes do judiciário têm pendido para a aplicação da Lei da forma mais abrangente.
    A assembléia no meu prédio é hoje à noite. Acho que vai pegar fogo, porque tem uma turminha mão de vaca que não vai querer arcar com esse ‘gasto’. Depois eu conto.

  7. Queria também registrar a vergonha que é a USP. Faço mestrado em São Carlos, e não posso trazer minha namorada cadeirante pra conhecer meu laboratório porque no meu andar só se chega de escada. Mas tem um banheiro adaptado bem legal, cheio de barras e tudo nos conformes!

  8. Meus pais moram em um condomínio em Ribeirão Preto-SP. Minha namorada, a Laís, é malacabada (cadeirante), e ela gosta muito do seu blog (só pra fazer propaganda, ela tem um blog também, caibra.wordpress.com/).
    Bom, ela já foi visitar meus pais algumas vezes. O condomínio é novo (~5 anos) e de classe média-alta, com ~200 casas, mas não possui acessibilidade nenhuma na área comum, nem mesmo rampas na calçada!
    Questionei a comissão de obras e obtive como resposta que, em uma das primeiras assembléias (meus pais ainda não eram moradores à época), o tema foi discutido, mas as obras foram rejeitadas pelo motivo de que “não há nenhum morador cadeirante, então não há necessidade”.
    Revoltante.
    Consegui uma promessa do candidato a próximo síndico (eleições serão em breve) de fazer as obras necessárias.
    Não falta dinheiro, afinal pelo menos uma rampa na calçada é baratinho (quando estavam construindo a calçada). Falta cultura e um pouco de respeito, eu diria.

    1. Tiago, nos casos de áreas comuns, se o as assembléias insistirem em não aprovar o “gasto”, é bem fácil ganhar a questão por meio de uma interferência na Justiça. Um condomínio feito há menos de 10 anos teria de ter cumprido a lei de acessibilidade…. então… Grande abraço… vou lá no blog da sua namo!!!!

  9. Toque, toque, toque… Tio! Puxa que difícil! Depois de tanto rodar, pegar um önibus aqui outro acolá, indicações e mais indicações, encontrei finalmente o endereço do novo cafofo! RSRSRSRSR, Deu um trabalhinho, mas cá estamos para comentar.
    Gostei deste, só ficou um pouco mais longe para chegar até o campo de comentário, mas confesso que gostei, muito bom, modernoso, rsrrs.
    Então, sobre o post, neste domingo fui visitar o ap. da minha cunhada que acabou de ser entregue. O condomínio é novinho em folha, os moradores ainda se mudando e foi exatamente a primeira pergunta que fiz para ela, se era um local acessível e ela me disse que sim, que tinha acessibilidade. Pelos menos arquitetonicamente me pareceu certinho, mas como nem tudo é perfeito, rs, faltou uma vozinha amiga para dizer o andar e não correr o risco de sair no andar errado. Por sorte minha cunhada mora no primeiro, mas já pensou se fosse no último que é o 24 andar? Uma solução bem barata para quem acha que é caro o som, é colocar plaquinhas com o número do andar na porta de cada porta que o elevador abrir. Já vi hotel com esta solução e realmente resolve, quando ninguém para na frente hahahaha.
    Beijinhos e parabéns pelo cafofo aconchegante.

    1. Eu tava já aflito com a demora da sua visita…. Até já tinha botado água fresquinha pro Charlie beber!! ahhahahahah…. Ju, essa do som, admito, eu nuuuuunca tinha pensado sobre. Realmente, faz todo o sentido…. preciso ajudar a propagar mais isso… Bem, mas seja muito bem vinda ao cafofo… aqui vc é sócia! Beijosss

  10. Moro em apartamento a uns 20 anos e acabei me adaptando a ele. O pior cômodo, realmente, é o banheiro. É claro que tem uns três ou quatro engenheiro ou arquiteto preocupado com a acessibilidade, mas as construtoras e incorporadoras querem lucro. Os lançamentos de novos empreendimentos são cada vez menores…uma tristeza.

    1. Os novos são assustadores, Ronaldão… Parece que não tem importância um banheiro em uma casa…. uma coisa de doido… abrass

  11. Pensar no amanhã não é complexo Jairo,mas em uma sociedade de “jovens” eternos,bonitos para sempre,eles não conseguem enxergar outro público tão pagante quanto …na Vila Prudente em 2010,foi lançado um condomínio com aptos para cadeirantes,vendeu como água,então vamos fazer mais,vamos melhorar o que precisa,pq os banheiros,hj,são minúsculos para qualquer ser humano com mais de 1 ano de idade !! sou corretora,sei do que estou falando,rssss Não consigo entender as pessoas que pensam ser melhor que outras,como sempre falo,além de ser da matrix,podemos estar pelos mais variados motivos….beijos(sempre me entusiasmando)

  12. As construtoras deveriam ser mais flexiveis..pensar que, da mesma maneira que um dia podem surgir problemas que precisem que uma parede seja derrubada, tb uma pessoa pode acabar tendo de modificar seu apê por várias razões: pq é pessoa de idade avançada, pq quebrou a perna, pq ja nasceu matrixiano ou entrou pro time após um acidente..os moradores não vão ser jovens e saudáveis pra vida toda,como num comercial de margarina. Se o ser humano é diverso e flexível, obras tb deveriam ser. Abraço!

    1. Exatamente isso… pensar um pouquinho mais no futuro dos moradores…. Não deve ser algo tão complexo assim, né?! abrass

  13. Faz um mês que me mudei pro MEU cafofo, confesso que foi uma delicia poder adaptar tudo do jeitinho que eu queria. Coisas simples, que facilitam tanto o dia a dia. Meu banheiro ainda está sem cortina, adorei essa ai !!!..rsrs

  14. Está marcada para amanhã uma assembléia no meu prédio, e a pauta são as obras de adaptação rumo à acessibilidade. Juro que não xinguei ninguém desta vez, a coisa fluiu na paz. Essa porta de correr é uma boa idéia para meu apê, já que de outra forma nunca poderei receber um amigo cadeirante. Uma obra que me parece fácil, rápida e barata.
    Gisele Bintcha me fez ganhar o dia.

      1. Como o Marcão e a Naty estão sempre ameaçando passar um fim-de-semana por aqui, estou mapeando os restaurantes e botecos de Goiânia no quesito acessibilidade. Já achei alguns ótimos e já dei esporros ótimos também, naqueles teimosos que dizem que ‘nunca vem nenhum cadeirante aqui’. A breja gelada eu garanto. E tem também aquela pinguinha de engenho.

  15. Ei, você quer fazer o favor de parar de ler pensamentos? kkkkk Ainda bem que você é vidente, estamos justamente quebrando a cabeça para tentar dar um jeito no banheiro da Júlia já que não é nada acessível, a começar pela porta estreitinha que até pra gente entrar com ela no colo está sendo um sufoco. Vou copiar suas idéias, pode ser? Mas pensando no coletivo, realmente as construtoras deviam dar mais opções. Aqui no meu condomínio era tudo acessível no papel mas em cada porta do pátio tinha um “degrauzinho” aí eu pedi delicadamente (juro) e eles providenciaram rampas em tudo quanto foi passagem, até na calçada para quando ela embarca no ônibus escolar.
    beijos

  16. É verdade, quem é cadeirante sofre com essa realidade e os banheiros são a parte mais complicada. Já cansei de ir nas casas e apartamentos de amigos e parentes e não conseguir entrar no banheiro. Malditas portas de 60 cm rsrsrs. Vamos engrossar o coro para que as construtoras se preocupem mais com a diversidade. Aquele abraço.

  17. É um dos maiores perrengues que colocaram pra dominação do mundo. Até parece q existe um certo complexo de “banheiro” encravado na humanidade, tamanha a ojeriza com este compartimento da casa. Parabéns duas vezes, por tratar da questão, e também pela nova casa,
    Continuamos c/vc.

  18. Banheiro sempre foi uma novela, em shoping, em mercado publico em restaurantes, dificilmente a gente vai em algum lugar que encontra algo decente. Por isso em casa tem que ser o melhor possivel ne. Tivemos que nos mudar final do ano, e o perrengue maior era encontrar uma casa que atendesse o minimo de toda necessidade. Quando vi essa casa, na hora falamos que seria essa, o banheiro cabe quase uma cama de casal dentro ( super kink hahahaha) Mas acho que o que falta mesmo é boa vontade de “fazer” a diferença pra quem é diferente. Bj tio e boa semana

  19. Jairo, sou arquiteto e lutamos diariamente para que a “acessibilidade” seja pensada no projeto e faça parte do consenso geral dos profissionais da área. A resistência ainda é grande, pois projetar locais acessíveis exigem espaços uma pouco maiores (só um pouco), porém já viu, pega na questão econômica e aí…
    Mas SP, em conjuntos habitacionais já prevê um percentual para moradias acessíveis, isso devia se estender também para a iniciativa privada…
    Agências bancárias, estações de metrô, terminais de ônibus já têm levado em conta essa necessidade…
    A norma da ABNT 9050/2004 de acessibilidade e livros como o Desenho Universal da Arq. Silvana Cambiaghi, da edit. Senac são ótimas fontes de conhecimento para arquitetos e público em geral sobre o assunto. Fica aí a dica para quem quiser se aprofundar no assunto.
    Abraços,

  20. Jairo, bom dia. Cheguei atrasada para inauguração do novo espaço.Parabéns pela “casa nova” tá muito chique e lindona.
    Os prédios pecam pela falta de acessibilidade não so nos banheiros dos apertamentos, mas também nas áreas comuns. Na minha opinião todo banheiro tinha que ter pelo menos uma porta mais larga, afinal qualquer um pode quebrar a perna e todos nos “mal acabados” ou não vamos envelhecer e precisar de barra de apoios, etc, etc.
    No meu predio não posso convidar meus amigos cadeirantes porque não tem um banheiro que seja viavel deles usarem.
    A proposito, a foto que mostra uma pia onde cabe a cadeira de roda, esta torneira não tá muito alta não?
    Beijos e boa semana!

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