Dez perguntas geniais para (não) fazer a um cadeirante

Jairo Marques

É muito provável que você que não é do universo dos “malacabados” já tenha feito ou pensado em fazer alguma das perguntas abaixo para um cadeirante. É do jogo, não se preocupe e não se ofenda! A curiosidade é nata do “serumano”.

Por outro lado, nós, os quebrados, ouvidos as indagações por várias e várias vezes na vida e, por isso, vira lenda, vira motivo de graça e até dá no saco ter de pensar em alguma resposta. A questão não é “não poder perguntar”, mas tentar elaborar um pouco mais o pensamento ou tentar se colocar no lugar do outro para evitar saias justas!

A dica do post foi da Danieli Haloten www.danielihaloten.com.br, que é cega e também passa por situações hilárias com as perguntas que recebe. Vou fazer outras publicações com perguntas cretinas feitas para outros times!

1- É de nascença?

Nunca entendi a razão dessa pergunta. Qual a diferença em saber se nasci “alei” ou se fiquei estropiado ao longo da vida? De qualquer maneira, “nascença” não provoca deficiência, mas, sim, doenças, má-formação, dificuldades no parto etc…

2 – Por que você não usa aquelas cadeiras elétricas?

Primeiramente, porque não quero morrer eletrocutado… 😛 . Cadeiras motorizadas, geralmente, são mais úteis para pessoas com deficiências muito severas ou que não tenham força muscular nos braços suficiente para tocar uma manual. Pessoas que podem se virar, devem mesmo usar as manuais, o que evita atrofia muscular e ajuda na vascularização e no funcionamento de todo o corpo.

cadeira-eletrica

3 – A cadeira vai no carro com você?

Muito comum entre taxistas, perguntar se a “cadeira vai com o cadeirante” é o mesmo que perguntar se a dentadura vai com o banguela, se o carrinho vai com o bebê, se a bike vai com o ciclista.

4 – Como você faz pra tomar banho?

Primeiramente, tiro a roupa, depois, ligo o chuveiro e tals… 😳

5 – É verdade que se botar fogo na sua perna você não sente?

Aos baloeiros de plantão, é muito perigoso brincar com fogo, ainda mais no corpo dos outros. A sensibilidade dérmica é diferente para cada pessoa com deficiência. Algumas, têm sensações táteis profundas, algumas, em apenas alguns pontos dos membros inferiores e tals. Não há verdades absolutas a respeito dessas sensações.

fogonorabo

6 – Você não anda nem um pouquinho?

Essa costuma ser lançada quando o “malacabado” está com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança aguardando o embarque em um buzão ou em uma aeronave. Oras, se eu fosse capaz de andar “um pouquinho” não ficaria aguardando ajuda para me locomover ou eu mesmo iria anunciar a possibilidade de me virar em algumas situações, pô!

7 – Como você faz para transar?

Arrumo alguém disposto a fazer o mesmo, desabotoou a calça e… 😯  Mas, às vezes, vai de roupa, mesmo. O que importa é ter desejo e disposição para o sexo. Como fazer, cada um tem lá seus mecanismos, predileções e adaptações.

transa

8 – Cansa muito os bracinhos, né?

Embora não seja propriamente uma pergunta, pois já adianta uma resposta, essa interrogação também não faz muito sentido. Todo exercício praticado com frequência cansa. Quando vir o cadeirante com meio palma de língua para fora, nem precisa perguntar, também, ele tá cansado. Pode, sim, oferecer ajuda, mas ela poderá ser útil ou não!

9 – Você dorme sentado?

Eu e qualquer pessoa com sono atrasado, que esteja achando o filme chato, que demore muito para ser atendido no médico, né? Via de regra, durmo deitado, mesmo.

10 – Sua bunda não dói?

Imagino que haja bundas bem mais expostas à dor que a minha ou a de qualquer cadeirante, a de gente que rebola muito, por exemplo! Estar sentado não significa estar estático. O povo quebrado se reacomoda no assento, mexe um pouquinho para cá e para lá. É comum, também, o uso de almofadas especiais, que diminuem o impacto da pressão (ui) na bunda e tornam o sentar por muitas horas seguido mais tranquilo.

bunda

* Imagens retiradas do google imagens

Comentários

  1. Uns tempos atrás eu levava uma amiga que tinha deficiência grave de visão para a escola. Depois de algum tempo, quando ficamos mais íntimos, eu perguntei como ela “enxergava”. Ela me explicou direitinho e dessa forma eu pude lhe ajudar de forma muito mais eficiente. Pois, além de alguma curiosidade natural, os “normais” não podem avaliar como uma pessoa com alguma deficiência se sente ou do que ela precisa.

    1. Boa, Fábio.. como eu disse, a questão não é “não perguntar”, mas a forma, o contexto e a oportunidade. Abraço

  2. Estou rindo sozinha, porque embora eu seja ” andante” tenho alguns amigos cadeirantes . A curiosidade morreu de velha e algumas destas perguntas já senti vontade de fazer… ainda bem que não fiz….kkkkkk

    1. kkkk Mariangela… até pode fazer qualquer uma das perguntas.. mas tenha um propósito, um contexto, um objetivo lógico, né? Um abraço

  3. Eu sou surdo e já ouvi algumas perguntas desse naipe. A mais comum é “o que é isso no seu ouvido?”, quando veem o aparelho. Outra comum é se o fato de ser surdo me impede de fazer alguma coisa. Essa eu sempre respondo “de escutar”…

  4. Achei muito legal a matéria. Faltou uma que eu escuto muito, pois como não conduzo a cadeira, estou sempre acompanhado: “Ele fala?” É lamentável ouvir isso !!!! Abs

    1. É, meu caro; também já ouvi muito isso!
      Essa, inclusive, tem complicadores: não anda, não entende e não escuta, certo? Caso contrário, se não fosse pressuposto que não escutamos/entendemos, a pergunta seria feita diretamente para o cadeirante.
      Agora, escrevendo, me veio uma resposta possível: interromper o diálogo, e dizer: não, eu rosno!
      Em verdade, acho que hoje em dia me irrito bem menos naquelas situações. Tento manter o humor e responder a partir da aposta na possibilidade de transformarmos o preconceito que se revela em cada uma dessas situações. E, aí, vai depender da intuição no momento: surpreender, brincar, argumentar…

      1. Mauro, “Eu Rosno” é maravilhoso ahahahahahaha…. Eu tb tenho uma tolerância muito maior atualmente. Grande abraço

  5. Eu me sentia muito irritado não com perguntas, mas quando afirmavam ou deixavam nas entrelinhas que passear na rua com minha filha era um ato de generosidade. Transparecia aquela ideia nada inocente de que lugar de deficiente é trancado em casa. Não me arrependo (apesar de que hoje talvez agisse diferente, a idade acaba moldando e encurtando a língua), mas não refrescava e, dependendo do momento, soltava um coice com potencial pra nocaute.

  6. Eu pessoalmente admiro os deficientes por todos os obstáculos que têm de enfrentar para seguir em frente, acho que por mais que a gente se esforce não temos noção. E gostei do artigo, bem humorado e didático.
    Tenho um cliente cadeirante e as vezes tenho vontade de oferecer ajuda para ele subir ao volante do veículo dele, mas não sei se ele iria se aborrecer com isso, então fico quieto e evito comentários que podem ser mal interpretados.

    1. Reynaldo, ele deve ter prática em subir no carro. Geralmente, qdo a pessoa precisa de algum tipo de auxílio, ela mesma pede! Um abraço

  7. No item 2 “– Por que você não usa aquelas cadeiras elétricas?”
    Eu tenho um acréscimo a fazer na resposta:
    Porque aumenta a conta de luz e a tarifa fica vermelha… É cada pergunta que Xesus..
    Mas essa resposta do: “Primeiramente, porque não quero morrer eletrocutado…” Continua sendo a campeã….kkkkkkkkkkkk

    1. Nossa, que impaciência hein, colega? Seria mais útil e educado informar o erro, ajudar a corrigir… Abraços!

  8. Meu colega que não tinha contato com cadeirantes, nm o primeiro dia de trabalho perguntou se eu nasci assim! – Olha fi9, a cadeira eu comecei a usar depois, não nasci com a cadeira grudada ou o medico m e colocou na micro cadeirinha e me entregou pra mãe… Ele riu muito e noa tornamos amigos!!
    E quanto ao taxi, que raramente utilizo, perguntou sim, se a cadeira ia. Eu nem consegui responder… Minha colega que tava junto respondeu pq dessa vez não ia sair nada bom.

    1. O taxista perguntar se a cadeira vai é muita patetice! E ele espera que a pessoa desça no destino como? Ou que a cadeira seja um Transformer e vá voando sozinha atrás do táxi? Ou que a cadeira é descartável e que vai ter uma no destino te esperando? Pelamor…

Comments are closed.